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Um Olhar Sobre Contos Fantásticos

Lygia Bojuga, considerada grande autora reconhecida nacionalmente e internacionalmente.

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O presente artigo tem como objetivo discorrer sobre a autora Lygia Bojunga, sendo está considerada grande autora reconhecida nacionalmente e internacionalmente. Para o desenvolvimento do trabalho foi utilizada as obras de Laura Sandroni e Regina Zilbermann. A análise enfatize os pontos mais relevantes da vida da autora e a linguagem utilizada em dois de seus livros: Os Colegas e a Casa da Madrinha.

Palavras-chave: Lygia Bojunga,biografia, literatura infanto-juvenil.

A Gaúcha Pelotense Lygia Bojunga viveu parte de sua infância no interior de sua cidade natal, nasceu em 26 de agosto de 1932 e aos oito anos foi para o Rio de Janeiro onde morava no Copacabana. Aos nove anos Lygia Bojunga começa a demonstrar seus primeiros dotes artísticos confeccionando sua primeira fantasia de cigana para festa de carnaval, aos dezenove anos, foi consumida pela paixão do teatro tendo seu primeiro papel principal no teatro Duse, sendo o diretor da peça o fundador do teatro do estudante do Brasil Paschoal Carlos Magno. Lygia abandona sua carreira de atriz e desde então começa o gosto pela escrita, passou dez anos escrevendo para rádio e televisão, para a autora a escrita era uma forma de sobrevivência, pois a partir da criação das personagens ela descrevia seus sonhos.

Em 1964, muda-se para o interior do Estado do Rio de Janeiro, onde constrói com seu segundo marido uma escola rural, a que deram o nome de Toca, foi quando iniciou sua carreira literária, que continuou em Londres, lugar onde seu esposo vivia.

Em 1982, dez anos após sua primeira publicação, com a obra Os colegas, Lygia Bojunga torna-se a primeira autora fora do eixo Estado Unidos - Europa a receber o Prêmio Hans Christian Andersen, uma das mais relevantes premiações concedidas para o gênero infantil e juvenil. Em 1988, Lygia criou o projeto As Mambembadas, onde produzia e apresentava textos em escolas, bibliotecas e espaços culturais, no Brasil e Exterior.

Funda, em 2002, a Casa Lygia Bojunga, exclusivamente para editar suas publicações. Pelo conjunto de sua obra, em 2004, ganha o Astrid Lindgren Memorial Award, prêmio criado pelo governo da Suécia, jamais antes outorgado a um autor de literatura infantil e juvenil.

De 1972 a 2002 a autora produziu vinte livros, com traduções em dezenove idiomas, dentre estes vinte, em três obras a autora expõe sua trajetória pelo caminho da literatura: Um encontro (1988), Fazendo Ana Paz (1991) e Paisagem (1992).

A obra ficcional de Lygia Bojunga é constituída pelos títulos: Os colegas (1972); Angélica (1975); A bolsa amarela (1976); Corda bamba (1979); A casa da madrinha (1978); O sofá estampado (1980); Tchau (1984); O meu amigo pintor/ O pintor (1984-87); Nós três (1987); Livro (1988); Fazendo Ana Paz (1991); Paisagem (1992); O abraço (1995); Seis vezes Lucas (1995); A cama (1999); O Rio e eu (1999); Feito à mão (1999); Retratos de Carolina (2002).

Seus textos baseiam-se no mundo infantil, através do olhar inocente das crianças, a produção literária caracteriza-se pela transgressão de fronteiras entre a fantasia e a realidade, critica a sociedade, tem amor à liberdade e uma forte empatia pela criança vulnerável, aborda temas sociais com de utilização lirismo e humor, questão esta associada à visão questionadora da autora de falsos valores e comportamentos característicos da sociedade contemporânea. LAURA SANDRONI [2], afirma:

As pretensões didáticas e moralistas dos primeiros tempos de literatura infanto-juvenil ainda sobrevivem, mas hoje alinham-se junto a um número cada vez mais significativo de textos cuja função lúdica está aliada a uma visão questionadora de falsos valores e comportamentos característicos da sociedade contemporânea. (1987, p: 13)

É possível verificar em suas obras a constante presença de utopias onde tudo é admissível acontecer, como ocorre na obra Os colegas, que foi publicado em 1972.

No trecho citado abaixo, ocorre à conversa de dois cachorros que pode levar a criança a imaginar como seria tal situação. A autora aborda nesta narrativa, assuntos sociais como a fome, onde as personagens principais, os animais, buscam alimentos no lixo para a sua sobrevivência e com a união das personagens, eles conseguem perceber a importância da amizade, da solidariedade e da intensa vontade de viver.

Nesta obra é importante salientar que as personagens não apresentam características prévias, cabe ao leitor no decorrer do diálogo compreender o que se passa, sendo estás características que relacionam a autora com a literatura infantil. Na obra Os colegas de Lygia Bojunga [3] são possíveis visualizar tais características.

- Como é que você se chama?

- Não sei.

- Ninguém me chama pra eu saber como é que eu me chamo.

- E você?

- Viralata.

(1972, p.06)

As personagens que a narrativa apresenta de maneira divertida são três cachorros (Virinha, Latinha e Flor-de-lis), um urso (Ursíssimo Voz de Cristal) e um coelho (Cara-de-pau), colegas que, procurando a liberdade, fogem dos lugares onde viviam e identificam-se uns com os outros. Sem lugar para morar, decidem construir um barraco com o material encontrado e formam um grupo social próprio. Com originalidade, são abordadas na história relações interpessoais como amizade, solidariedade e trabalho em equipe e, também, relações sociais, como a festa de carnaval, a construção do barraco, o trabalho no circo, o luxo da cachorrinha, a falta de alimento, a luta pela sobrevivência e, principalmente, a conquista da liberdade. Esta última é retratada criticamente no livro, não só com uma noção literal do termo (quando Virinha e Latinha fogem do canil, por exemplo), mas também como a de liberdade interior, sendo uma das possíveis leituras da obra, transmitindo ao leitor a necessidade de ser livre para pensar e agir frente aos acontecimentos da vida.

Na obra A Casa da Madrinha, Lygia fez uso de personagens-animais representando situações humanas problemáticas (a insegurança, a busca da amizade e do amor, a auto-afirmação), mostrando a tendência à discussão das dificuldades da criança no mundo adulto, empregando uma linguagem coloquial bem apurada ao falar dos grandes centros urbanos brasileiros, a opção pela atualidade nacional e foi considerado o “melhor para o jovem”.

A obra aborda a história de uma casa que se torna o centro dos pensamentos de um menino, que acaba largando o mundo onde vive agressivo, sem saída, e parte em busca da casa. Encontra um companheiro de viagem: um pavão. Estrada fora, a história dos dois se mistura e, à medida que se estreitam as fronteiras entre as fantasias e a realidade, várias personagens vão surgindo: A gata da capa, o João das Mil e uma namoradas, o cavalo Ah, Seu Jóca do pandeiro entre outros, ajudando e dificultando a caminhada do menino e do pavão como mostra o trecho abaixo de Lygia Bojunga [4].

O pavão era um bicho calmo, tranqüilo. Mas com aquele papo todo o dia o dia todo a todo instante, deu pra ir ficando apavorado. Se assusta à toa, qualquer barulhinho e já pulava para um lado, o coração pra outro. Pegou o tique nervoso: suspirava tremidinho, a todo a hora sacudia a última pena do lado esquerdo, cada três quartos da hora sacudia a penúltima do lado direito.(1999. P. 24)

O enredo é construído basicamente com as narrações das histórias-personagens enlaçadas à história da viagem de Alexandre.

A história é narrada no estilo vivo e ágil que distingue os trabalhos da autora.

O texto se caracteriza pelo domínio do diálogo sobre a narração, deixando para o leitor interpretar e definir o significado da história, o livro discute os problemas da infância abandonada, da criança trabalhadora e das diferenças sociais verificáveis na realidade brasileira.

Sendo Lygia Bojunga a narradora direta e indiretamente de todas as suas histórias, ela expõe sempre o que pensa e discutem os comportamentos sociais que abordam temas polêmicos como a morte, estupros, injustiça, desigualdade, originárias na própria sociedade brasileira. Uma das principais diferenciais de Lygia é a utilização da metalinguagem que enfatiza a construção das personagens (afinidade e diferenças) e a montagem da história dentro de histórias. Há também a liberdade com que a arte aparece nos textos, necessária para que o ser humano se realize, pois só assim o leitor, poderá exercitar um novo modo de olhar a realidade, porém é necessário que essa construção de arte esteja centralizada na linguagem, espaço em que o autor pode conspirar com forças mágicas da palavra, alternando sentidos inesperados e essa liberdade pela arte ficcional contribui para a formação do sujeito crítico, reflexivo e imaginativo.

Outros procedimentos que são importantes salientar é a construção de diálogo, pois é neste critério que se concretiza a força libertadora das personagens para exibirem suas fraquezas, ironias e rebeldias.E como os diálogos não se constroem apenas das falas entrelaçadas entre as personagens, mas também de um confronto entre estas e a escritora-narradora, tal metalinguagem dialógica, confere uma densidade maior aos discursos diretos, justamente por inseri-los no jogo entre realidade e ficção, utilizando na maioria das obras uma linguagem coloquial; Dentro de suas narrativas é corriqueiro aparecer metáforas, metamorfoses ou mudanças rápidas na focalização das cenas, furto de expectativa, clima de esconde-esconde entre personagens e narrador, fantasia enorme, humor característico de desenho animado, ludicidade, atitudes marcadas pela rebeldia, quebra de normas e convenções nas falas e dinamismo, todos esses ingredientes estéticos se configuram de modo a buscar uma cumplicidade com as crianças e os jovens. Sandra Sandroni [5], afirma:

Esta estrutura comum traz em seu bojo muitas diferenças além de decorrentes da imaginação fértil da Autora, capaz de criar histórias e personagens cheios de vida, graça e humor. A forma como os diversos fios que compõem a trama se entretecem é uma delas. (1987, pag.74)

O universo metafórico de Lygia Bojunga é de grande riqueza polissêmica possibilitando várias leituras. Uma delas é a leitura crítica com relação ao contexto social que ela tematiza. (1987, pag.84)

Lygia Bojunga transparece através das narrativas sérios problemas na perspectiva da criança. Aponta para a importância do conhecimento, do desenvolvimento harmônico do indivíduo como ferramentas para a luta contra a desigualdade social, procura atingir a liberdade de pensamento. Para expressar essa ideia a autora usa uma imagem muito clara na concretização das metáforas.

Considerações Finais

Contudo as narrativas de Lygia Bojunga procuram realizar algo que já é uma imensa conquista nos tempo de hoje marcado pela mesmice: oferecem-se como uma resposta moderna ao didatismo da literatura educativa, firmando-se mais como signo artístico que como convenção. Podem-se apontar as principais características que conformaram o estilo literário inicial de Lygia Bojunga Nunes e que justificam o enorme êxito de suas primeiras histórias: uso do fantástico, ou seja, objetos e animais adquirem vida e passam a vivenciar situações e dilemas psicológicos como seres humanos; representação da dificuldade da criança em conviver com o mundo adulto, principalmente com a sua autoridade vazia de fundamentos; e o uso do registro coloquial na fala dos personagens e do narrador.

Em suas obras Lygia não infantiliza desnecessariamente o seu leitor, trata-o como um ser pensante e em desenvolvimento intelectual e afetivo. Através da sinceridade, da fantasia, do conhecimento, da crítica, da língua simples e carregada de metáforas inusitadas, a autora mostra a criança sob vários olhares.

Referencias Bibliográficas:

BOJUNGA, Lygia. A casa da Madrinha. 18. ed. AGIR: Rio de Janeiro, 1999.

BOJUNGA, Lygia. Os colegas. 51. ed. Casa de Lygia Bojunga: Rio de Janeiro, 2008.

SANDRONI, Sandra. De Lobato a Bojunga; as reinações renovadas.1.ed. AGIR: Rio de Janeiro, 1987.

Obras Consultadas:

ZILBERMAN, Regina. Como e por que ler A Literatura Infantil Brasileira. Ed. Objetiva: Rio de Janeiro, 2005.
In: www.wikipedia.org

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[1] Acadêmicas do VI semestre de Letras da Universidade da Região da Campanha – URCAMP-São Borja – extensão Itaqui, RS.

[2] SANDRONI, Sandra. De Lobato a Bojunga; as reinações renovadas. 1. ed. AGIR: Rio de Janeiro, 1987.

[3] BOJUNGA, Lygia. Os colegas. 51. ed. Casa de Lygia Bojunga: Rio de Janeiro, 2008.

[4] BOJUNGA, Lygia. A casa da Madrinha. 18. ed. AGIR: Rio de Janeiro, 1999.

[5] SANDRONI, Sandra. De Lobato a Bojunga; as reinações renovadas. 1.ed. AGIR: Rio de Janeiro, 1987.


Publicado por: Cristina Sabin dos Santos

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