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Erico Verissimo: Um Notável Gaúcho na Literatura Brasileira

Análise da trilogia : O continente, O retrato e O Arquipélago.

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Resumo

O presente artigo tem por objetivo discorrer sobre a trilogia do modernista Erico Lopes Verissimo, O Continente, O Retrato e O Arquipélago. Para o desenvolvimento do trabalho foram consultadas obras de Afredo Bosi, Ébion de Lima, Francisco Bernardini e Maria da Glória Bornidi. A análise enfatiza a trilogia que foi a principal obra do autor e revela os pontos que marcaram a trajetória do povo Gaúcho. Em meio às guerras e às violências, há valores que o autor não deixa de ressaltar nessa obra, como: a tenacidade, a paz, a liberdade e a coragem.

Palavras-chave: Modernista, Gaúcho, Crítica Social.

Resumen

El presente artículo tiene por objetivo ponderar sobre la trilogía del modernista Erico Lopes Verissimo, El Continente, El Retrato y El Archipiélago. Para el desenvolvimiento del trabajo fueran consultadas las obras de Afredo Bosi, Ébion de Lima, Francisco Bernardini e Maria da Gloria Bornidi La analisis enfatiza La triligía que fueran las principais obras del autor y revela los puntos que marcaron la trayectoria del pueblo Gaucho. En medios las guerras y las violencia, ha valores que el autor no deja de resaltar en esta obra, cómo: la tenacidad, la paz, la libetad y la coraje.

Palabras-llave: Modernista, Gaucho, Critica Social

Introdução

O apreciamento de Erico pela leitura surgiu com seus primeiros livros que provinham de obras de raro valor. Iniciou seus estudos em sua cidade natal, Cruz Alta, sendo necessário aos dezoito anos abandonar seus estudos para trabalhar na capital Gaúcha. Com problemas financeiros de sua mãe vê-se obrigado a voltar a Cruz Alta. Trabalhou em uma farmácia sendo sua propriedade, anos mais tarde decretou falência da mesma, voltando a residir em Porto Alegre.

É nesta época que Verissimo dá início a sua carreira na Literatura. Começou pelo jornalismo, escrevendo para o jornal Correio do Povo e para o Diário de Notícias e atuando no secretariado da Revista do Globo.

A partir de 1930, com a segunda geração do Modernismo brasileiro, o Erico é destacado pela sua prosa modernista que enfatiza o regionalismo. Nesta fase é necessário relatar que a poesia se sobressai, apesar de não acompanhar exatamente as linhas estético-filosófica modernista. A prosa de Erico Verissimo focaliza no romance gaúcho, porém ateve-se também ao urbanismo.

Grande ilustre da Literatura Brasileira, Erico enquadra-se na segunda geração da estética modernista sendo também um dos principais escritores regionalista, visto que o autor descreve sua terra e sua gente não com exaltação, mas de maneira mais centrada e reflexiva, numa tentativa de compreender o momento presente, as desigualdades sociais, a formação da elite etc.

A trilogia O Tempo e o Vento, iniciada em 1949 e concluída em 1962, afasta-se do cenário tradicional da cidade e enfoca no meio rural. Esta principal obra de Erico Verissimo inicia-se em 1745 com o nascimento de Pedro Missioneiro e com a vinda de Maneco Terra, português que se desloca de Sorocaba para cultivar o trigo, e termina em 1945, com o fim do Estado Novo. A trilogia abriga os volumes de O Continente, O Retrato e O Arquipélago. A mais importante obra comentada do Erico dá ênfase às ações relativas ao tratamento discursivo representada pelo diálogo. Em suas obras pode-se perceber a multiplicação das personagens que expressam ângulos diferentes da sociedade e perspectivas diversas de entendimento. Nesta trilogia, o autor representa a história do estado do Rio Grande do Sul de 1680 até 1945, com a saga das famílias Cambará e Terra.

Nesta obra-prima, Erico Verissimo desenvolve uma visão profundamente humana, aborda o tema sobre o próprio mundo por meio de um olhar cíclico, na qual as personagens lutam por uma vida mais humana, dando características ao homem gaúcho como: valente e machista. Um povo que lutou durante anos para conquistar sua própria sobrevivência é transmitido ao leitor através de conflitos entre gerações, entre os meios rurais e urbanos e a busca dos valores morais e éticos perante à sociedade. Estes foram as principais reflexões realizadas ao longo da história das famílias Terra-Cambará e Amaral e, ao mesmo tempo da formação populacional do Estado do Rio Grande do Sul. Alfredo Bosi[2], afirma:

Fruto da mesma intuição das suas reais possibilidades criadoras foi a passagem que Verissimo realizou do corte sincrônico dos primeiros romances para o vasto painel diacrônico de O Tempo e o Vento. Neste ciclo o contraponto serve para apresentar o jogo de gerações: portugueses e castelhanos nos tempos coloniais; farrapos e imperiais durante as lutas separatistas; maragatos e floristas sob a Revolta da Armada, em 1893. A história de duas famílias, os Terra Cambará e os Amaral, atravessando dois séculos de vida perigosa, é o fio romanesco que une os episódios do ciclo e embasa as manifestações de orgulho, ódio, de amor e de fidelidade; paixões que assumem uma dimensão transindividual e fundem-se na história maior da comunidade (1994, p. 409).

Verissimo, inspirado na sua cultura, discorre em suas obras sobre a predominância da classe média e o homem em processo de urbanização conforme se pode perceber na trilogia O Tempo e o Vento, visto que as personagens provinham de famílias estabelecidas, porém apresentavam traços de guerra que vinha há ser superiores às mesmas. Em O Continente percebe-se à história da formação sul-rio-grandense, através das guerras que marcam a vida e a personalidade das personagens, como a do Capitão Rodrigo Cambará. Com esta integração perante à sociedade, as personagens são representadas muito mais por perdas e dores, do que feitos heróicos. Não há heróis em sentido grandioso, há atitudes heróicas de um povo humilde e corajoso que lutou pela sobrevivência. Francisco Bernadini[3], afirma:

Ema terceira vertente na obra Erico Verissimo foi o chamado romance da terra. O tema é desenvolvido em duas grandes obras: a trilogia O Tempo e o Vento e o romance Incidente em Antares. Nessas obras, a epopéia gaúcha, o autor aborda a temática da formação da nação como o povo e como unidade federativa do Brasil. É enfocada a personagem do patrão, o estancieiro herói que luta bravamente pela posse de conservação de sua propriedade (1997, p.37).

Outra característica relevante que o escritor Erico Verissimo aborda é a sobriedade da linguagem, sem excessivo esbanjo de adjetivos e cultivo dos vícios que a própria região utiliza como é possível perceber em O continente de Erico Verissimo[4].

Rodrigo começou a trinchar a lingüiça[5] com alegria. Juvenal bateu o isqueiro, acendeu o cigarro, tirou duas tragadas e ficou a observar o forasteiro. Já começava a achar que ele tinha uma cara simpática. (1978. p.174)

Em O Retrato, continuação da primeira parte da trilogia, emprega a narrativa similar ao de O Continente, sendo abordada a trajetória de Rodrigo Terra Cambará. Nesta obra há também um tímido processo de urbanização, ainda presente na cultura rural vista na primeira obra. Uma das personagens principais, como a personagem Dr. Rodrigo Cambará, é marcada pelo contraste entre ele, homônimo do capitão, homem da cidade e o Coronel Licurgo seu pai, homem rural. Dr. Rodrigo apesar de manter uma vida sofisticada, não deixava de transparecer o típico Gaúcho, jovem liberal e idealista e que compreende de forma lenta a diluição dos valores morais que determina o passado do seu povo.

A história desenvolve entre 1909 e 1915, obtendo sua culminância no Estado Novo, visto que a obra tem predomínio de histórias políticas e sociais do Rio Grande do Sul e do Brasil e ações ficcionais, havendo a criação de alguns de seus grandes heróis e símbolos. Alfredo Bosi[6], afirma:

A linguagem com que resolveu esse compromisso é discretamente impressionista, caminhando por períodos breves, justaposições de sintaxe, palavras comuns e, forçosamente, lugares-comuns da psicologia do cotidiano. A aparente frouxidão que adveio da fórmula encontrada pareceu a certos leitores sinal da superficialidade. Mas, era na verdade, o meio ideal de não perder nenhum dos pólos de interesse que atraíam a personalidade de Erico Verissimo: O tempo histórico do ambiente e o fluxo de consciência das personagens (1994, p. 408).

A última parte da trilogia, O Arquipélago, foi lançada onze anos após a segunda parte, dando continuação ao Tempo e o Vento.

A família Cambará permanece em evidencia, porém com desintegrações entre irmãos e pais e filhos. É marcada por datas históricas como: Revolução de 1923, Estado Novo, Coluna Prestes entre outras que percorreram mais de 20 anos de história. Ocorrem conflitos pelo domínio do poder e a queda da ditadura Vargas. O próprio Getúlio Vargas[7] era uma das personagens reais que fazem parte da trilogia, junto com Luis Carlos Prestes e Osvaldo Aranha. A família Cambará vive uma radical revolução de costumes, sob a influência do cinema americano, entre estes fatos a família adota uma postura crítica. Erico Verissimo[8], em O Arquipélago:

Os olhos de Rodrigo dirigiam-se para Getúlio Vargas. Deputado por São Borja lá estava no seu lugar, como sempre vestido com apuro, as faces escanhoadas, o bigode negro com as pontas retorcidas para cima. Sua expressão era de impassibilidade ( 1978, p. 102).

A personagem Floriano, filho de Rodrigo Terra Cambará é considerada o ego de Verissimo, na qual no desfecho da trilogia, a personagem se prepara para escrever um livro baseado em seus ancestrais, que ao falar de outro o escritor fala de si mesmo.

Considerações Finais

Este sucinto relato sobre Erico Veríssimo na Literatura Brasileira percebe-se o quanto o autor revela sua visão através de seu próprio mundo, por meio das representações estéticas de suas obras em evidência, a trilogia: O Tempo e o Vento, que foi apresentada neste artigo.

O autor utiliza sentimentos de idealização, de caráter otimista, em consequência investiga o humano em suas relações com o meio, com a linguagem, a paisagem e a cultura de sua região, estendendo-se a várias dimensões na Literatura Brasileira, partindo do seu espaço local, seu ambiente de convívio no estado do Rio Grande do Sul, ultrapassando fronteiras reais e imaginárias, físicas e políticas, para chegar à universalidade de sua obra, vivendo diversas experiências de ver o mundo sob diferentes ângulos e obtendo diversas interpretações acerca da humanidade e do próprio fazer literário.

Referências Bibliográficas

BERNADINI, Francisco e BORDIN, Maria da Glória. Centro Cultural: CEEE Erico Verissimo: Memória que gera cultura, cultura que gera memória. Copyriht: Porto Alegre, 2002

BERNADINI, Francisco. As Bases da Literatura Rio-Grandense – História, autores e textos. 3 ed. AGE: Porto Alegre, 1997.

BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 32. Cultrix: São Paulo, 1994.

LIMA, Ébion de. Curso de Literatura Brasileira III. Coleção: São Paulo, 1972.

VERISSIMO, Erico. O Tempo e o Vento. O Continente. Globo: Porto Alegre, 1978

VERISSIMO, Erico. O Tempo e o Vento. O Arquipélago. Globo: Porto Alegre, 1978

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[1]Acadêmica do V semestre de Letras da Universidade da Região da Campanha – URCAMP-Itaqui, RS.

[2] BOSSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira.32. ed. Cultrix: São Paulo, 1994

[3] BERNADINI, Francisco. As Bases da Literatura Rio-Grandense – História, autores e textos. 3 ed. AGE: Porto Alegre, 1997.

[4] VERISSIMO, Erico. O Tempo e o Vento. O Continente. ed. Globo: Porto Alegre, 1978

[5] Mantém-se a ortografia original, vigente na data da publicação da obra.

[6] BOSSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira.32. ed. Cultrix: São Paulo, 1994

[7] Ex ditador, vencera a eleição de 1950 e tornara-se presidente da República.

[8] VERISSIMO, Erico. O Tempo e o Vento. O Arquipélago. ed. Globo: Porto Alegre, 1978


Publicado por: Cristina Sabin dos Santos

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