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Resenha: Formação dos educadores ambientais e paradigmas em transição

Resenha do livro Formação dos educadores ambientais e paradigmas em transição.

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Esta resenha refere-se ao artigo de Marília Freitas de Campos Tozoni-Reis, professora Assistente no Departamento de Educação do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista, Campus de Botucatu no estado de São Paulo, intitulado Formação dos educadores ambientais e paradigmas em transição, publicado em 2002 na Revista ENSINO & EDUCAÇÃO, v. 8, n. 1, p. 83 - 96.

Em sua discussão sobre a dimensão ambiental da educação, o texto relata inicialmente que, no mundo contemporâneo, estão relacionadas àquelas mais gerais sobre esta temática as quais estão contidas nos mais variados setores da sociedade. Embora em diferentes abordagens, todas as discussões apontam à necessidade de políticas públicas no que tange a educação ambiental.

O texto apresenta cronologicamente as diversas atividades mundo afora, desde a Revolução Industrial até os dias atuais e que as discussões acerca da educação ambiental convergiram para a conscientização pautada em conhecimentos e em informações como instrumentos, articulados à sensibilização, participação e responsabilidade, com pretensões de se garantir atitudes e comportamentos compatíveis com o desenvolvimento sustentável. Além desse desenvolvimento, há preocupação fundamental com o desenvolvimento de recursos humanos.

Ao final do atual século, o cenário é de concreta ameaça à vida humana e à de outras espécies. Fato que exige uma nova abordagem para a educação, colocando a educação ambiental como dimensão da educação. Os diferentes enfoques que tratam da educação ambiental levam à definição de diferentes objetivos.

Em linhas mais críticas, autores indicam, para cenário da discussão da ecologia como movimento social, a crise civilizatória, crise dos referenciais epistemológicos, filosóficos e políticos que vêm sustentando a modernidade. Já no campo da educação ambiental mais especificamente, a relação entre sociedade e ambiente também é discutida.

A formação dos educadores ambientais pode ser compreendida também pela análise dos referenciais teóricos dos professores que atuam em cursos de graduação em biologia, geografia e química das universidades públicas do Estado de São Paulo (Campos, 2000). A autora indica, para efeito de análises, como categorias simples, síntese de múltiplas determinações desse processo de formação as relações entre o homem e a natureza e a educação.

Sugere-se o materialismo histórico-dialético para ser o referencial metodológico que toma para análise as representações da relação homem-natureza e as da educação. A idéia central aqui é que

“a formação dos educadores ambientais nos cursos de graduação das universidades é fundamentada por diferentes formulações teóricas, que podem indicar tentativas de superação dos paradigmas atuais, tradicionais, de interpretação da realidade.”

Tais aspectos - teórico-metodológicos - da formação dos educadores ambientais estudados explicitam e qualificam a prática educativa da formação dos educadores ambientais.

O texto sustenta que a crise ambiental tem causa numa disfunção circunstancial, ao mesmo tempo em que é o argumento principal, e a idéia de que, a humanidade encerrou as possibilidades históricas e sociais, intencionais – teórica e politicamente – de convivência humana e ambiental, são seus mais expressivos conteúdos.

As mudanças internas, no indivíduo, são metas educativas, e a sua adaptação ao ambiente natural e harmônico é princípio educativo. A crise ambiental e a profecia apocalíptica se relacionam, constituindo-se em perigosos argumentos filosófico-políticos para atitudes autoritárias de controle social.

A concepção natural e a concepção racional da relação homem-natureza e educação aparecem muitas vezes articuladas. O discurso ambiental surge carregado da ideologia da natureza natural como conteúdo educativo – ideológico – da educação ambiental. Por outro lado, a concepção racional se faz presente entre esses professores em sua forma mais pura, a de preparar o indivíduo para a vida em sociedade.

Essa concepção de relação homem-natureza racional e dominadora, princípio do pensamento moderno de Galileu (1564 – 1642), Bacon (1561 – 1626), Descartes (1596 – 1650) e Newton (1642 – 1726), tem conseqüências para a formação dos educadores ambientais. Tal representação como racional, também dominante entre os professores dos cursos de química, indica a educação, como a preparação – no sentido de adaptação – intelectual dos indivíduos para viverem em sociedade com vistas à garantia de que os recursos naturais não se esgotem. Constatada a crise da utilização dos recursos naturais pelo desenvolvimento dos conhecimentos ambientais, conquistado pelas ciências da natureza, a lógica que emerge do próprio desenvolvimento é a utilização racional desses recursos.

Valores e atitudes, quando conteúdos de ensino, recebem o mesmo tratamento: transmissão/aquisição de verdades. O educador é a autoridade suprema no processo educativo vez que é a fonte do saber sistematizado. Um corolário filosófico-político dessa proposta educativa é a dominação. O antropocentrismo da relação homem-natureza aparece, no processo educativo, sob a forma de autoritarismo. A assimilação, por imposição/adesão, é princípio educativo fundamental.

Observamos, nas atividades acadêmicas que, as abordagens natural e racional têm pontos em comum: ambas conferem à problemática ambiental uma abordagem catastrófica apocalíptica, como também desconsideram a influência concreta dos aspectos sócio-históricos desses problemas.

Conhecimentos, no que diz respeito à dimensão ambiental da educação, são os conhecimentos dos processos socioculturais da humanidade, conhecimentos das escolhas sociais, assim como os valores e atitudes dizem respeito à ética das relações homem-natureza e das relações entre os sujeitos. Numa perspectiva histórica de educação ambiental, os conteúdos educativos articulam natureza, trabalho, história e conhecimento, além de valores e atitudes como respeito, responsabilidade, compromisso e solidariedade, sendo a educação ambiental é mediadora da apropriação, pelos sujeitos, das qualidades e capacidades necessárias à ação transformadora responsável.

O distanciamento das disciplinas nos cursos de graduação impõe uma profunda revisão em suas estruturas formativas. A formação dos educadores não pode ser mais pensada como uma somatória de conhecimentos desconexos, além de costurados artificialmente.

Fala-se na dimensão ambiental das relações sociais a qual exige desses profissionais, o exercício de uma função social de síntese, que tenha formação direcionada à perspectiva da capacidade de integrar os conhecimentos e a cultura.

A autora comenta os paradigmas em transição a partir da crise de tais paradigmas nas ciências, na sociedade e na educação a qual tem sido amplamente discutida desde a década de 1960, quando das avaliações e perspectivas do desenvolvimento das ciências e suas relações com a organização social.

Apresenta paradigma como sendo a idéia de que cada disciplina tem uma estrutura pré-estabelecida por pressupostos epistemológicos (Kuhn, 1987). Mais do que metodologia, paradigmas dizem respeito a conteúdos (Altvater, 1999).

A tendência à superação de paradigmas identificada nas representações dos professores dos cursos estudados sinaliza um movimento de procura e transição de paradigmas científicos e, de certa forma, socioculturais. Esse movimento diz respeito à superação do paradigma dominante, principalmente nas ciências naturais. No entanto, as análises das falas revelaram uma idéia de superação que se aproxima da idéia de negação. Superação, numa perspectiva dialética, não é negar, mas avançar, ou seja, incorporar criticamente o paradigma dominante construído pela história do desenvolvimento das ciências e da organização social, e ir além, construir, sobre a base histórica do pensamento científico e sobre as formas de organização sociais reais, novas formas, alternativas, de ação humana na natureza e na sociedade.

Conclui sobre os referenciais teóricos presentes nas atividades de formação dos educadores ambientais, aos quais se identificam sinais de transição de paradigmas. O que, caso problematizado e potencializado nas discussões e práticas acadêmicas, tende a gerar novas formas e conteúdos para a formação dos educadores ambientais nos cursos de graduação.

O texto é direcionado a profissionais que atuam na área de Ensino de Ciência, e tem como proposta sugerir, ao leitor, sinais de transição de paradigmas por meio de iminentes gerações de novas formas e conteúdos à formação de educadores na área da educação ambiental.

Traz uma enorme contribuição à Educação, sobretudo ao docente e aos iniciados em programas de pesquisa em Ensino de Ciências, os quais passam a dispor de novos elementos a uma reflexão acerca de tais possibilidades – transição de novos paradigmas - em sua forma de trabalhar/pesquisar, razões pelas quais considero valiosa sua leitura.

RESENHA

- Título: Educação ambiental e Ensino de Ciências.
- Identificação: Formação dos educadores ambientais e paradigmas em transição.
- Referência: TOZONI-REIS, M. F. de C.. (2002). Formação dos educadores ambientais e paradigmas em transição. Ciência & Educação, v. 8, n. 1, dez., p. 83-96, 2002. Disponível em HTTP://www2.fc.unesp.br/cienciaeeducacao/archive.php . Acesso em: 02 abr. 2009.


Publicado por: Marcos Fernandes Sobrinho

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