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Resenha: Educação em Espaços Não-Formais e Divulgação Científica - Museu de ciência, educação científica e hegemonia

Resenha do artigo Educação em Espaços Não-Formais e Divulgação Científica - Museu de ciência, educação científica e hegemonia.

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Esta resenha refere-se ao artigo de José Mauro Matheus Loureiro, doutor em ciência da informação e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, intitulado Museu de ciência, divulgação científica e hegemonia, na revista Ciência e Informação. Brasília, volume 32, número 1, publicado em 2003.

A partir da pesquisa do conceito de hegemonia, sugerido por Gramsci, o referido artigo tem motivação revestida nas ações voltadas à construção, gestão e transferência da informação em ambientes museológicos científicos e seus usos sociais. Faz menção a outras como: a carência, o impasse e as divergências nas poucas reflexões teórico-conceituais dirigidas ao fenômeno informacional no interior dos espaços museológicos.

O autor lembra o fato de que museus são espaços institucionalizados de memória além de fazer um breve histórico do museu de ciência contemporâneo que nasce no colecionismo praticado nos séculos XV e XVI os mantém suas características primárias aos dias atuais.

São citados, ao longo de sua contextualização histórica, dois novos conceitos os quais se incorporaram às reflexões acerca do universo das instituições museológicas científicas: centros de ciência (science centers) e science centrum. Os primeiros entendidos como

“(...) uma nova concepção de museu. (Gil, 1988, p. 73), foram criados para difundir a ciência e os produtos tecnológicos dela derivados utilizando meios de comunicação e exposições interativas, estruturadas o mais próximo possível do método científico. Encontram-se ausentes de tais instituições os objetos pertencentes ao passado científico e o caráter histórico e sociocultural do desenvolvimento da ciência e da tecnologia.

Os últimos - Os science centrum -, incorporados em passado recente às reflexões sobre instituições científicas nos Estados Unidos.

Embora conceitualmente distintos a literatura tem apresentados como fenômeno único.

“Contudo, consideramos que o museu de ciência se diferencia do centro de ciência em virtude de sua configuração como instituição voltada à preservação, gestão e difusão da história, produtos e influências socioculturais da ciência. Nesse sentido, o museu de ciência configura-se ainda, principalmente por meio da exposição museológica, como instrumento de divulgação científica.”

Ao abordar a divulgação científica, o texto considera relevante localizá-la inicialmente no contexto da comunicação científica, que se configura uma das mais expressivas especialidades da ciência da informação e no interior da qual se vêm produzindo, atualmente, inúmeras reflexões, tais como a geração e a transferência da informação científica.

“A denominação comunicação científica foi criada na década de 40 por John Bernal, a fim de expressar .(...) o amplo processo de geração e transferência de informação científica. (Christovão, Braga, 1997, p. 40) entre pesquisadores.”

Nos canais de comunicação formal, a informação é balizada por regras, procedimentos e avaliações mais rigorosos, para transmissão por meios de comunicação especializados, como periódicos considerados os mais utilizados e valorizados, livros, monografias e obras de referência. Nos canais de comunicação informal, a informação, enquanto proposta de pesquisa apresenta-se por meio dos intrapares, pelo cientista/pesquisador e vai gradualmente obedecendo a procedimentos de formalização, integração e avaliação.

Dois são os grupos diferenciados aos quais se destinam a disseminação, quais sejam: a disseminação intrapares, o qual compreende o fluxo informacional em ciência e tecnologia entre especialistas de uma mesma área do saber e áreas afins caracterizados por público especializado, conteúdo específico e código fechado (Bueno, 1985, p. 1421-1422); e a disseminação extrapares voltada à propagação da informação científica e tecnológica, visando a especialistas de outras áreas do conhecimento.

O outro grupo está relacionado à divulgação científica.

No texto o autor se posiciona, com base em Bueno, acreditando que

“os museus científicos constituir-se-iam espaços de divulgação científica, tendo em vista buscarem .(...) transferir aos nãoiniciados informações especializadas de natureza científica e tecnológica. (Bueno, 1985, p. 1422) valendo-se da recodificação da linguagem semântica e não-semântica instrumentos e/ou produtos científicos e tecnológicos tornados objetos musealizados.”

Do ponto de vista conceitual da hegemonia, o autor acredita que tal conceito se mostra instrumento privilegiado de análise das várias instâncias da sociedade.

Ele ao discordar do economicismo, não reconhece serem as .(...) expressões de vontade, de ação e de iniciativa política e intelectual oriundas das necessidades econômicas.

Explica que a hegemonia não se restringe somente ao momento cultural e não encontra seu fim nas ações dos intelectuais enquanto elo relacional entre base e superestrutura.

Chama atenção ao fato de que a hegemonia não deve ser circunscrita e/ou confundida com a noção de ideologia dominante, como proposta na obra marxiana, nem tampouco com os mecanismos de legitimidade como as propostas weberianas.

Depois de argumentar infere que o museu público, organizado e dirigido a partir do Estado, constituir-se-ia espaço onde as classes dominantes persuadiriam, naturalizariam e fariam com que as classes dominadas compartilhassem seus valores morais, sociais e culturais.

A exposição museológica dos museus de ciência públicos brasileiros apresentar-se-ia como uma totalidade na qual são dispostas representações de representações do conhecimento científico.

Considera que os museus de ciência públicos brasileiros integrados à superestrutura (sociedade civil + sociedade política ou direção cultural ou moral + aparelho de Estado), contribuiriam, com as exposições, para a efetivação da hegemonia.

A autoridade e a eficácia do discurso científico, por meio do lazer/educação informal, universalizariam e institucionalizariam projetos culturais e ideológicos que induziriam as classes subalternas ao consenso quanto às demandas das classes ou frações de classe dominantes. Eis a idéia central da hegemonia no texto.

O autor acredita que as diferenças básicas entre as exposições em museus tradicionais e aquelas baseadas no formato emergente de

“exposição científica residam em um design mais contemporâneo, no aspecto lúdico e na interatividade que caracterizam as últimas. É importante ressaltar que tais características são, sem dúvida, da maior importância no que se refere ao papel pedagógico do museu.”

Por fim o autor se posiciona acreditando ser pertinente estender as críticas e observações feitas aos museus de ciência tradicionais aos demais museus de ciência públicos brasileiros,

“já que neles, prevaleceriam a apresentação dos produtos finais da ciência e o obscurecimento da noção de processo. Em ambos os modelos permaneceriam a representação expositiva da ciência capitalista, o caráter de persuasão e o dirigismo cultural e ideológico.”

O texto é direcionado a profissionais que atuam na área de Ensino de Ciência, e tem como proposta sugerir formas não-formais de divulgação científica por meio da exposição museológica, abordando alguns conceitos de hegemonia correlacionando-os com os aspectos de divulgação museais, nos quais os valores transmitidos, a cultura num sentido mais amplo, não pela força, mas pela persuasão.

O autor faz ainda um analogia entre as hierarquias manifestas pela liturgia da Igreja e as da Ciência.

Trata-se de um texto importante dada sua relevância na medida em que sugere ao leitor-professor ou pesquisador em Ensino de Ciências uma reflexão acerca do que vem a ser divulgação científica a partir de posicionamentos, por parte do autor, os quais se dão de forma coerente e sólida.

Traz uma contribuição relevante ao Ensino de Ciências, sobretudo ao docente de ciências e aos iniciados em programas de pesquisa em Ensino de ciências, os quais passam a dispor de novos elementos motivacionais em sua forma de trabalhar e, no caso dos demais, idéias sobre possíveis linhas de pesquisa,razões pelas quais considero valiosa sua leitura.

RESENHA

- Título: Educação em Espaços Não-Formais e Divulgação Científica.
- Identificação: Museu de ciência, educação científica e hegemonia
- Referência: LOUREIRO, J. M. M. Museu de ciência, educação científica e hegemonia. Ciência da Informação. Brasília, v. 32, n. 1, 2003. Disponível em: . Acesso em: 24 mar 2009.


Publicado por: Marcos Fernandes Sobrinho

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.