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Fundamentos básicos para entender Política

Confira aqui uma reflexão sobre alguns fundamentos da política!

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Muitos não sabem definir o termo política. Em dicionários acadêmicos encontramos definições mais elaboradas que fogem à compreensão de crianças, adolescentes e pessoas com escolaridade média. Mas partir para a definição etimológica é um começo que ajuda na compreensão de qualquer conceito.

Numa sociedade como a grega, em que a vida pública interessava a todos os cidadãos, chamavam de politikos aquele que se dedicava ao governo da polis ("a cidade, o Estado"), colocando o bem comum acima de seus interesses individuais. Por intermédio do latim, o termo ingressou em todas as línguas ocidentais; no início, porém, adquiriu uma conotação claramente pejorativa: politician, no inglês do séc. 16, designava alguém que recorria a intrigas para adquirir poder ou cargos públicos: algo semelhante ao que hoje chamamos de politiqueiro, que faz politicagem. A partir do século seguinte, no entanto, prevaleceu o sentido de homem público, que representa os partidos na composição do governo. No dicionário de Morais, que é de 1813, o termo volta a ter, como na Grécia, o sentido elogioso de estadista. Não há dúvida de que o Brasil de hoje conhece exemplos de ambos os significados. 

Fonte: http://www.dicionarioetimologico.com.br/searchController.do?hidArtigo=4D32D8060C27E326AD282199D08027FD – Acesso em 09/06/2014

Portanto “política” pode ser definida como a atividade que organiza a sociedade. Quando um grupo de pessoas empreendem esforços para organizarem-se entre si ou liderarem a organização de um grupo maior.

Ao longo da história, e consequentemente das sociedades humanas, foram surgindo instituições[1] políticas na medida da complexidade da sociedade vigente. De conselhos de anciãos à câmara de senadores e deputados, tais instituições passaram a reunir pessoas com a função de representar a coletividade. Defender os interesses dos diferentes grupos que compõem qualquer sociedade.

A humanidade criou diversas estratégias e modelos de administração política, porém a maioria consistia em grupos representativos que acabaram se tornando privilegiados, utilizando de sua representatividade para defender seus próprios interesses. Quanto mais complexa vai se tornando a sociedade menos coerente e eficaz vai se tornando tal representatividade. Do rei ao presidente.

A concepção que se constrói no senso comum das sociedades ditas democráticas é que a ação política se limita aos representantes escolhidos. E isso é a causa de muitas das mazelas sociais que vivenciamos.

Toda e qualquer atitude humana em meio a um grupo de dois ou mais é essencialmente política. Desde a infância, em brincadeiras de grupos, em escolhas pessoais e reações perante o outro, qualquer indivíduo expressa sua personalidade e suas características políticas. Alguns têm o dom da liderança, outros da organização, outros da rebeldia e outros da criatividade. Em diferentes situações e medidas, as pessoas participam e interagem com seu meio social de acordo com seus interesses. Articulam situações, ou são articulados pela iniciativa de líderes natos. Defendem seus interesses pessoais a qualquer custo ou compartilham interesses coletivos, zelando por eles. Usam a habilidade do discurso e persuasão ou se submetem e apoiam alguém que o faz. Independentemente da forma e do objetivo, qualquer interação social consiste em atitudes políticas. Como já disse o poeta Bertolt Brecht em O Analfabeto Político:

O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

Fonte: http://pensador.uol.com.br/frase/MjMzMDA5/ - Acesso em 06/09/2014.

A vida em sociedade é, portanto, uma somatória das ações e interesses individuais. E o caráter desses interesses é que configuram as características do grupo em dimensões maiores. Isso significa que em uma sociedade onde os indivíduos compartilham de interesses coletivos, ou seja, onde cada pessoa tem como interesse o bem estar do outros na mesma medida de seu próprio, esse coletivo se torna mais harmônico e saudável. Quando prevalece nos indivíduos a defesa dos interesses próprios em primeiro lugar, surgem conflitos mais complexos e insolúveis, visto a diferença natural entre as necessidades individuais.

Por mais essencial que seja a construção de noções políticas entre os indivíduos, nem sempre a ação é consciente de seus efeitos. Como já foi dito, quase toda ação individual é política, mas quando não há a consciência de seus efeitos o bem estar coletivo fica comprometido. Quanto menos consciência existe da relação de causa e efeito que permeia qualquer atitude humana em sociedade mais comprometido fica o bem estar social.

Tais noções começam ser construídas, consciente ou não, no seio da família. A criança percebe as atitudes dos mais velhos e reproduz. Repete.  Na medida em que vai adquirindo maturidade esse individuo começa a atribuir valores à tais atitudes. E é nesse momento que a participação e intervenção se faz necessária. E, consequentemente, a intervenção pode levar a dois caminhos. A construção de valores coletivos que estimule a valorização e o respeito pelo outro ou a potencialização de valores individualistas e egoístas considerados instintivamente natos aos humanos, numa perspectiva hobbesiana ou rousseauniano.

Segundo Rousseau, somos naturalmente maus. Isso quer dizer, egoístas, individualistas, violentos. E o meio em que vivemos nos molda. Define quem somos. Atualmente quem nos define? A família? Os meios de comunicação? A escola? Ambos. Em diferentes medidas de acordo com cada contexto. E cada uma dessas instituições reproduzem diferentes valores que oscilam entre o ideal e o real. O individualista e o coletivista. O consumista e o humanista. E quem determina os valores de tais instituições? As pessoas que as organizam e lideram. Nossos supostos representantes. E quem são eles? De onde vieram e o que querem? São aqueles que escolhemos pelo voto. E eles querem representar a si mesmos. A manutenção do próprio poder. Os interesses daqueles que patrocinam suas campanhas. Essas pessoas determinam o que a mídia mostra. Determinam o que e como se ensina nas escolas. E consequentemente determinam os valores que as famílias, escolas e meios de comunicação transmitem às crianças. E tais valores se resumem às formatação de consumidores compulsivos, trabalhadores adestrados e cidadãos que exercem a cidadania pagando impostos e obedecendo leis.

Uma criança criada no seio de uma família com valores comuns a tal estrutura sócio/cultural reproduz tais valores. Aprende a defender seus interesses pessoais imediatos através do poder de consumo. Isso quer dizer que, normalmente, quanto maior a renda mais direitos são garantidos a si mesmo. E aos que não tem renda resta sobreviver a qualquer custo. As consequências dessa sucessão de causa e efeito se manifestam negativamente em todas as dimensões sociais. Desde casamentos fracassados pela falta de objetivos comuns e capacidade de abrir mão das vontades próprias, passando por crianças completamente egoístas e sem respeito e postura em ambientes coletivos, até adultos totalmente corruptos que se orientam pelo princípio e objetivo de tirar vantagem sobre tudo e todos.

Por mais que isso passa parecer uma questão de caráter e personalidade, é também resultado de referências. E referências se constroem com atitudes políticas. Atitudes que configuram a organização das instituições seja ela a família, escola, cidade ou país. O coletivo é reflexo da ação e concepção política dos indivíduos. Ou mesmo da falta de tal concepção.

A formação dos indivíduos necessita de noções que valorizem o coletivo. E isso é uma questão de educação política. A partir do momento em que o indivíduo reconhece que cada atitude e escolha individual têm reflexos e efeitos coletivos, portanto são essencialmente políticos, haverá a compreensão de dimensões mais complexas da política. E havendo tal compreensão haverá também uma participação mais efetivas de cidadãos em instituições políticas em prol dos interesses coletivos.

A política é algo indissociável da convivência coletiva. Portanto deve ser cultivada sob valores coletivistas. Deve ser regida pelo princípio da alteridade[2] Deve considerar a existência e interatividade mútua com o outro em qualquer circunstância. A política que se baseia em valores individualistas é aquela que perpetua privilégios, que gera guerras, articulações de interesses e jogos de poder em detrimento da harmonia e  bem estar social. Portanto a construção de valores sociais e humanos que visam a harmonização das diferenças entre os indivíduos deve ser o inicio e o fim de qualquer ação politica. Ou seja, uma vez que a politica surge para organizar a convivência entre pessoas e grupos diferentes, nasce dessa necessidade, é essa mesma necessidade que deve reger todas as suas implicações e instituições. Tudo na política deve dar conta de harmonizar as diferenças. Da conta de garantir o bem estar coletivo sem a opressão do indivíduo. E para isso o indivíduo necessita se libertar de suas vontades próprias que possam limitar a liberdade de outros.

É apenas com o exercício efetivo da cidadania é que podemos superar mazelas sociais. Porém cidadania também é um conceito construído a partir de determinados valores. Na antiga Atenas, no seio da civilização grega, ser “cidadão[3] era sinônimo de ser privilegiado. Era uma condição limitada a um grupo reduzido de pessoas (homens=, gregos, livres e proprietários). E para o exercício efetivo da cidadania esses cidadãos atenienses gozavam de plena formação intelectual sobre as ciências políticas e naturais, desenvolviam plenas habilidades em retórica, artes, oratória e esportes. Todos os cidadãos atenienses passavam pela formação necessária ao exercício da cidadania e participação direta na política. Essa lógica se estendeu ao império romano. Cidadania privilégios. Mesmo em um contexto mais complexo, com instituições diferenciadas, evolução do conhecimento e das práticas jurídicas, os governos romanos se caracterizaram por constantes e sangrentos jogos de poder entre a elite privilegiada que compunha o senado romano. Com a crise do Império Romano, todo o poder político constituído até então vai sendo articulado em poder religioso. Adotam-se fundamentos Judaico-Cristãos e se autodeclaram os guardiães de deus. Fizeram de deus um produto e venderam esse produto como um unificador de povos. Pouco a pouco o mundo ocidental constituiu-se por uma identidade religiosa que dispensava a cidadania. Tornava desnecessária a formação politica e cidadã, uma vez que a administração e o poder estava nas mãos de Deus e seus escolhidos. Papas, cardeais, padres, reis e senhores feudais. Estrutura que durou 1000 ano na Europa Ocidental sob o nome de Igreja Católica Apostólica Romana, e guardou em bibliotecas de mosteiros todas as teorias politicas desenvolvidas por gregos e romanos.

O renascimento trouxe o resgate de valores e princípios clássicos. Dentre eles cidadania, democracia, república. Trouxe também o surgimento de uma nova classe social. A burguesia. Não eram nobres (privilegiados por Deus) nem eram servos (condenados à viver do próprio suor e sustentar a obra divina sob o comando do clero e da nobreza). Era a classe alforriada das obrigações com a igreja por influência ideológica e conquistas de poder econômico. Trouxeram das arábias, depois das longas décadas de contato com a cultura árabe, um amplo leque de conhecimento que gerou todas as condições para o acelerado enriquecimento através de atividades comerciais. E poder econômico gera poder político. Portanto a burguesia, na proporção de seu enriquecimento foi conquistando seus direitos políticos, seja pela compra de títulos e cargos entre a nobreza, seja por rebeliões e greves. A burguesia se aliou ao povo para romper com os privilégios da nobreza e dar início a uma nova lógica de organização.

Tal ascensão burguesa envolveu mudanças fundamentais nas estruturas econômicas, sociais e religiosas que resultou em conquistas politicas mais sólidas. A expansão marítima promoveu a acumulação primitiva de capital para a burguesia. A reforma protestante garantiu a adaptação dos princípios e dogmas cristãos aos princípios e práticas burguesas. A estratificação social cada vez mais complexa ocasionou a mobilização de massas contra a estrutura vigente. E então as revoluções burguesas derrubaram o antigo regime. O absolutismo. As monarquias que preservavam velhas relações feudais e mantinham a nobreza sob privilégios ilimitados. O iluminismo tira das mãos de Deus a responsabilidade de governar, e transfere tal responsabilidade às representações burguesas. Resgata-se os princípios clássicos da política e renova a concepção de cidadania proporcionalmente aos interesses das novas estruturas de sustentação. Renascem os congressos, as câmaras de deputados, senadores. Cria-se ministérios, prefeituras, secretarias, delegacias, fóruns. Nasce o Estado burguês. A instituição que, teoricamente, administra  povo, a diversidade e os interesse das classes, grupos e segmentos a partir de constituições e legislações redigidas e regidas por princípios burgueses.

E quais são os princípios burgueses? São os princípios do consumo. Do lucro. Do enriquecimento. Sustentado pelo fundamento da meritocracia. Ou seja, da organização e da classificação dos indivíduos a partir do merecimento. Se um indivíduo ou família se torna privilegiado, não foi por questão hereditária  ou vontade divina como na idade média. Mas sim por empreendedorismo, inteligência, moralidade, merecimento. Esse é o viés do individualismo burguês.

A prática da cidadania na concepção burguesa consiste em garantir os direitos individuais tais como a propriedade privada. A burguesia passa a oferecer condições de formação ideológica, intelectual e política às suas crianças para que elas aprendam a defender os interesses de sua classe assim como multiplicar suas riquezas e potencializar a capacidade de lucrar. Isso sustenta então a Revolução Industrial. O desenvolvimento e domínios sobre as ciências da natureza e processos de produção consolidam o sistema Capitalistas.

Foram as relações de poder exercidas entre os diferentes segmentos sociais ao longo da história que formatam as sociedades contemporâneas. E dessas relações nasceram um segmento especifico que harmonizou princípios politico clássico da antiguidade com dogmas religiosos medievais e atividades economias modernas. Estabeleceram uma noção de cidadania diretamente proporcional ao status sócio econômico, ou cidadania censitária. Ode sua formação e participação politica é proporcional à seu poder aquisitivo. Estrutura que se sustenta pela manutenção da ignorância. Ou seja, pela garantia de que as pessoas se sintam cidadãs mesmo não sabendo o que é e como exercer a cidadania. Garantido uma estrutura educacional apolitizada, com objetivo de formar consumidores e trabalhadores que se contentam em sobreviver e distrair com entretenimentos.

Tudo o que somos, pensamos, gostamos, escolhemos é resultado da articulação de forças políticas. Das instituições aos indivíduos. Do Estado às famílias. Os valores humanos se reproduzem em atitudes sociais, portanto políticas. E a essência desses valores em nosso país é o individualismo ideológico. A busca por status social através do poder de consumo.

 


[1] ins·ti·tu·i·ção |u-i| substantivo feminino

1. Fundação.
2. Organização.
3. Estabelecimento de caridade ou de utilidade pública.
4. .Ato de conferir .canonicamente um benefício (instituição .canônica).
5. Nomeação de herdeiro.

"instituição", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/institui%C3%A7%C3%A3o [consultado em 09-06-2014].

[2] al·te·ri·da·de
(francês altérité) substantivo feminino

1. Qualidade do que é outro ou do que é diferente; 2. [Filosofia]  .Caráter diferente, metafisicamente;

"alteridade", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/alteridade [consultado em 09-06-2014].

[3] ci·da·dão (cidade + -ão) substantivo masculino

1. Indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um estado livre.
2. Habitante de cidade.

"cidadão", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/cidad%C3%A3o [consultado em 09-06-2014].


Publicado por: Alan Carvalho

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