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Eles não se alfabetizam! - O que fazer?

Considerações de uma acadêmica do 5° semestre de pedagogia, sobre dois cados de dificuldades de aprendizagem observados numa instituição que recebe somente deficientes mentais.

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Resumo:

Esse trabalho traz as considerações de uma acadêmica do 5º semestre de Pedagogia, da UERGS em Cidreira, sobre dois casos de dificuldades de aprendizagem observados numa isntituição que recebe somente deficientes mentais.

Nessa pesquisa foram levantadas uma série de questões sobre as formas de ensinar e sobre as muitas crianças que tem um diagnóstico baseado numa falha ou incapacidade do queixoso. Para embasar as análises feitas foram utilizados conteúdos da bibliografia básica da cadeira de Dificuldades de Aprendizagem. A bibliografia também levanta alguns pontos de discussão bastante relevantes para que haja uma mudança de abordagem nos métodos de ensino e nas práticas pedagógicas, bem como a forma de diagnósticos dessas dificuldades, além de propor que sejam reavaliadas as formas de encaminhamento médico dessas crianças que, supostamente, tem uma dificuldade de aprendizagem.

O resultado da observação inicialmente foi contrário ao diagnóstico aprensentado, trazendo algumas possíveis diferenças de critério médico nessas análises. Os casos tem diagnósticos iguais, porém descrições diferentes, entretando é preciso lembrar que as análise são feitas por uma graduanda da área da educação, portanto as questões são mais direcionadas para as práticas docentes. Uma vez que nos casos observados a deficiência mais citada é que esses alunos não se alfabetizaram em 14 anos de escola e 10 de tratamento médico.

Palavras-Chave: Dificuldades de aprendizagem, diagnóstico, diferenças e aluno.

1. Introdução:

As dificuldades de aprendizagem estão em evidência nas mídias, nas clínicas de psicologia, mas é nas escolas que elas aparecem com maior frequencia. Essas dificuldades, estiveram presentes em toda a história da educação, entretanto apareciam com outros termos, os alunos com dificuldades eram tratados por “burros”, “retardados”, e ainda, nos tempos mais antigos, “endemoniados”. Os termos mudaram, mas ainda temos o famoso fracasso escolar,  a repetência, ou apenas o preguiçoso que não gosta de estudar, enfim os alunos difíceis . Após uma mudança de olhar, as crianças passaram a ter, ao invés de serem difíceis, um diagnóstico, que exime a escola do fracasso e da responsabilidade da não aprendizagem. Diante de tais mudanças surge a necessidade, por parte do professor, de compreender o que significam essas dificuldades para que, na ocorrência destas, saiba reconhecê-las e quando necessário encaminhá-las para atendimento clínico. Contudo é importante salientar que nem toda a dificuldade na aprendizagem tem relação com traumas psicológicos ou patológicos. As dificuldades de aprendizagem podem sim, e invarialvamente são, problemas na metodologia que a escola oferece. É preciso observá-las, bem como aos aluno, pois a diversidade de realidades e visões de mundo presentes na escola são muito grandes.

A avalição do professor é fator determinante para o diagnóstico de dificuldade de aprendizagem, pois este não é simples e tampouco fácil. Esse quadro pode ser oriundo de traumas, distúrbios ou ainda por deficiencias mentais de leve a graves. Mas também pode ser apenas falta de adequação ao método aplicado. Considerando isso é premente que haja um domínio significativo dos conceitos que determinam uma dificuldade de aprendizagem para que a escola não incorra no erro de encaminhar alunos que apenas tem ritmos diferentes, para análise clínica.

Após a apresentação da metodologia, será apresentado o relato de uma observação feita numa instituição pública de ensino especial, que só recebe crianças, adolescentes, jovens e adultos com diagnósticos de deficiencia mental. A descrição dos casos foi feita a partir dos dados coletados nas entrevistas com a psicóloga e com o instrutor de capoeira. O nome da instituição, dos entrevistados e dos alunos observados serão preservados.

2. Metodologia:

A proposta do trabalho de pesquisa foi investigar dificuldades de aprendizagem em alunos da rede regular de ensino, nas famílias e dos professores. Para tanto, após escolhida a instituição, utilizou-se dois métodos de coleta de dados. Um deles foi uma entrevista com a psicóloga da escola pesquisada e com o instrutor de capoeira dos alunos e o outro a observação dos alunos durante a aula de capoeira.

3. Apresentação dos Casos:

3.1  - Primeiro Caso:

O aluno B.A., sexo masculino, 21 anos, negro, de classe baixa. Família aparentemente estruturada, ou seja, de acordo com as convenções: pai e mãe vivendo juntos. Segundo os dados arquivados e informados pela psicóloga, B.A. foi enviado para a escola especial, aos 10 anos de idades, por ter dificuldades na alfabetização.

O diagnóstico de Deficiência Mental Moderada (Cid F72[1]) foi feito no ano de 2003, ainda não foi contestado e nem reavaliado. Contudo a psicóloga diz que: “o diagnóstico dos alunos não é um limitador, é apenas o ponto de partida, investimos em nosso alunos, sempre, de diferentes formas, para que eles evoluam”.

B.A. está numa turma de alfabetização na EJA, mas não se alfabetiza e tampouco reconhece letras e números, segundo a psicologa, ele, provavelmente, não reconhece dinheiro. “As dificuldades dele são apenas pedagógicas, cognitivas. Ele está na EJA, mas não se alfabetiza. Mas ele se localiza na cidade, anda por tudo. Tem hábitos de higiene, come sozinho, se orienta muito bem.”,disse a Psicóloga.

B.A. tem muita habilidade para música e para a capoeira angola, sempre se destaca nos esportes e em todas as atividades físicas e motoras que se envolve. Segundo a psicóloga e o Instrutor de Capoeira ele parece ter vida sexual ativa e dentro da normalidade, uma vez que sempre está namorando.

O fato que chamou a atenção para esse caso foi uma história contada pelo instrutor de capoeira angola, que relatou ter aprendido a tocar samba de roda no Atabaque como B.A. “Ele não sabe que me ensinou, mas eu aprendi.” Entretanto durante a observação o instrutor articulou uma fala coletiva e nesta oportunidade B.A. disse que aprendeu o samba de roda na Banda de Osório e que ensinou para o instrutor. O aluno pareceu ter  bastante  consciência da realidade vivida por ele e consegue contar com detalhes as aprendizagens que teve ao longo do último ano com relação a capoeira.

Durante a observação o aluno se mostrou bastante a vontade e demonstrou ter desenvoltura com todos os assuntos abordados durante a aula de capoeira angola. Pareceu ser o gozador da turma. Ele sempre sabia tudo e tinha alguma coisa a dizer. B.A. é inquieto, prestativo, levou água para os colegas. Saiu do lugar várias vezes. Mas atendeu a todos os pedidos feitos pelo instrutor. Se vestia com roupas coloridas e seu corte de cabelo é moderno, refletindo cuidado com sua aparência.

A aula observada era de ritmo e ele tocou três instrumentos de percussão diferentes, com habilidade, apenas o canto era gritado e descompassado. Percebia-se nele um desejo sexual aflorado e quando despediu-se da observadora tentou beijá-la nos lábios. Mas não insistiu ao ser recusado.

O aluno passou a impressão de que seu diagnóstico foi severo demais para o comportamento apresentado atualmente, poderia ser reavaliado.

3.2  - Segundo Caso:

O aluno C.A., sexo masculino, 20 anos, branco, também de classe baixa. Perdeu a mãe quando ainda era criança. Segundo os dados arquivados e informados pela psicóloga, C.A. foi enviado para a escola especial, aos 09 anos de idade, por ter dificuldades na alfabetização e por quase não falar.

Esse aluno tem um diagnóstico de Deficiência Intelectual (Cid F72[2]) feito no ano de 2004, e assim como no primeiro caso, ainda não foi contestado e nem reavaliado. Com base nesse diagnótico a escola promoveu a estimulação, mas com poucos resultados. “O C.A. nunca foi cuidado de verdade depois que perdeu a mãe, mas há mais ou menos um ano o pai dele casou-se novamente, e parece que é uma pessoa responsável, por que agora ele vem limpinho, com a higiene feita, as roupas bem cuidadas. Ele evoluiu muito, tá até falando.” , disse a psicóloga.

C.A. também não é alfabetizado. “O C.A. também tem dificuldades pedagógicas, cognitivas. Ele também frequenta uma turma na EJA, mas não se alfabetiza. Ele tem autonomia, mas não é como o B.A. Ele tem dificuldades para interagir, fala muito pouco ainda, mas sorri bastante.”,disse a Psicóloga.

Durante a  observação C.A. se mostrou tímido, falou pouco, mas sorriu muito. O Instrutor propôs uma conversa para que os alunos contassem o que aprenderam no primeiro ano de capoeira e quando chegou sua vez de falar C.A. foi ao banheiro e só voltou quando já havia passado a sua vez. Mas depois respondeu, quando perguntado que havia apredendido a tocar atabaque, pandeiro, agô-gô e reco-reco. Também disse que aprendeu a cantar. Demontrou uma carência profunda. Tem características físicas peculiares, rosto comprido, dentes e boca grandes, as mãos também, chamaram a atenção. Usava um corte de cabelo desleixado, roupas limpas, porém desgastadas e com aparência de serem de pessoas mais velhas, nada nele parecia refletir uma personalidade própria ou comum aos jovens da idade dele.

Tocou dois instrumentos diferentes e demonstrou concentração ao fazê-lo, não parecia que lhe era uma tarefa fácil, mas a desempenhou bem. Segundo o instrutor ele era muito difícil de lidar no início, pois não conseguia compreender a fala dele. Também quando a questão motora ele disse haver problemas, mas também disse não saber afirmar se isso era consequência da sua patologia ou se era por falta de estímulo, pois ele estava evoluindo na capoeira.

Esse aluno deixou a impressão de muita carência afetiva, mas não pareceu ter problemas mentais graves. Nesse caso também poderia ser feita uma reavaliação.

4. Marco Teórico: 

Para discorrer sobre as dificuldades de aprendizagem é preciso que se tenha claro o que é aprendizagem, para tanto recorro a teorias da aprendizagem para responder a pergunta que segue no próximo item.

4.1 – O que é aprendizagem?

Segundo as teorias da aprendizagem, esse é um processo que consiste nas diversas formas como os individuos constroem o conhecimento a partir das informações externas. Sendo assim é possível perceber que cada indivíduo aprende de forma diferente e única, não sendo possivel generalizar os ensinamentos, mas sim é necessário que para cada indivíduo seja criado um método diferente.

Vejamos a seguir, um breve histórico[3] de algumas teorias e seus teóricos:

Epistemologia Genética de Piaget - Ponto central: estrutura cognitiva do sujeito. As estruturas cognitivas mudam através dos processos de adaptação: assimilação e acomodação. A assimilação envolve a interpretação de eventos em termos de estruturas cognitivas existentes, enquanto que a acomodação se refere à mudança da estrutura cognitiva para compreender o meio. Níveis diferentes de desenvolvimento cognitivo.

Teoria Construtivista de Bruner - O aprendizado é um processo ativo, baseado em seus conhecimentos prévios e os que estão sendo estudados. O aprendiz filtra e transforma a nova informação, infere hipóteses e toma decisões. Aprendiz é participante ativo no processo de aquisição de conhecimento. Instrução relacionada a contextos e experiências pessoais.

Teoria Sócio-Cultural de Vygotsky - Desenvolvimento cognitivo é limitado a um determinado potencial para cada intervalo de idade (ZPD); o indivíduo deve estar inserido em um grupo social e aprende o que seu grupo produz; o conhecimento surge primeiro no grupo, para só depois ser interiorizado. A aprendizagem ocorre no relacionamento do aluno com o professor e com outros alunos.

Aprendizagem baseada em Problemas (John Bransford & the CTGV) - Aprendizagem se inicia com um problema a ser resolvido. Aprendizado baseado em tecnologia. As atividades de aprendizado e ensino devem ser criadas em torno de uma "âncora", que deve ser algum tipo de estudo de um caso ou uma situação envolvendo um problema.

Teoria da Flexibilidade Cognitiva (R. Spiro, P. Feltovitch & R. Coulson) - Trata da transferência do conhecimento e das habilidades. É especialmente formulada para dar suporte ao uso da tecnologia interativa. As atividades de aprendizado precisam fornecer diferentes representações de conteúdo.

Aprendizado Situado (J. Lave) -  Aprendizagem ocorre em função da atividade, contexto e cultura e ambiente social na qual está inserida. O aprendizado é fortemente relacionado com a prática e não pode ser dissociado dela.

Gestaltismo - Enfatiza a percepção ao invés da resposta. A resposta é considerada como o sinal de que a aprendizagem ocorreu e não como parte integral do processo. Não enfatiza a seqüência estímulo-resposta, mas o contexto ou campo no qual o estímulo ocorre e o insight tem origem, quando a relação entre estímulo e o campo é percebida pelo aprendiz.

Teoria da Inclusão (D. Ausubel) - O fator mais importante de aprendizagem é o que o aluno já sabe. Para ocorrer a aprendizagem, conceitos relevantes e inclusivos devem estar claros e disponíveis na estrutura cognitiva do indivíduo. A aprendizagem ocorre quando uma nova informação ancora-se em conceitos ou proposições relevantes preexistentes.

Aprendizado Experimental (C. Rogers) - Deve-se buscar sempre o aprendizado experimental, pois as pessoas aprendem melhor aquilo que é necessário. O interesse e a motivação são essenciais para o aprendizado bem sucedido. Enfatiza a importância do aspecto interacional do aprendizado. O professor e o aluno aparecem como os co-responsáveis pela aprendizagem.

Inteligências múltiplas (Gardner) - No processo de ensino, deve-se procurar identificar as inteligências mais marcantes em cada aprendiz e tentar explorá-las para atingir o objetivo final, que é o aprendizado de determinado conteúdo.

4.2 – O que é Dificuldade de Aprendizagem?

Dificuldade de aprendizagem, por vezes referida como desordem de aprendizagem ou transtorno de aprendizagem, é um tipo de desordem pela qual um indivíduo apresenta dificuldades em aprender efetivamente. A desordem afeta a capacidade do cérebro em receber e processar informação e pode tornar problemático para um indivíduo o aprendizado tão rápido quanto o de outro, que não é afetado por ela. Ocorre que na atualidade essa conclusão médica está muito acessível, muito fácil, como uma transferência de responsabildade pelo fracasso.

Bergès, Bergès-Boune e Calmettes, os três psicanalistas, também questionam essa tradição imposta de que todas as dificuldades de aprendizagem tem um fundo médico. Segundo estes especialistas:

A acentuação do defeito e os meios paliativos tendem a apagar o que parece essencial: o lugar do sujeito. O que nós somos chamados a descobrir, graças as essas crianças, é a importância do lugar do sujeito com respeito ao saber. Não há sujeito sem saber, e o próprio sujeito se funda de um saber. Pode, então, ser levado em conta o que existe de saber inconsciente, não-sabido, do sujeito. (frase da contra capa do livro: “O que aprendemos com crianças que não aprendem.”)

Diante de tais reflexões é premente uma mudança na concepção de dificuldade de aprendizagem, é necessário que se faça uma análise profunda do ensino. Uma vez que para que o sujeito aprenda algo novo é preciso saber como ele aprende e fundamentar o ensino nisso.

Os estudantes que não aprendem nos ensinam que precisamos ter modéstia e humanidade para reconhecer esse lugar do sujeito e onde está o saber desse sujeito. Muito embora saibamos que existem profissionias que se dedicam à uma prática diferenciada que visa à inclusão, a maioria esmagadora apenas prescreve uma medicação e emite um diagnóstico que, genericamente falando, tem como base queixas de quem não consegue ensinar.

Com base nesses conceitos e reflexões é que serão analisados os casos observados, que em muito depõem a favor das teorias defendidas por esses psicanalistas.

5. Discussão teórico-prática:

Acerca dos casos observados é impossível deixar de discutir a questão do diagnóstico atribuído aos dois casos. Os dois alunos tem diagnóstico de Deficiência Mental Grave, mas na ficha médica consta para B.A. Deficiência Mental Moderada e para C.A. Deficiência Intelectual. Como é possível que duas pessoas com expressões, carateríticas e histórico familiar completamente diferentes um do outro, podem ser enquadrados no mesmo Cid e este Código ser definido de duas formas?

Segundo Golse[4], cada criança é um mundo em si, e nele só entra quem consegue descobrir a chave. Diante dessa afirmação fica evidente que a tentiva de entrar no mundo desses alunos não existiu. A principal queixa em relação aos dois é que não se alfabetizam.

Esses alunos foram encaminhados a instituição em que se encontram por não se alfabetizarem e, passados 10 anos, não se alfabetizaram ainda que estejam recebendo acompanhamento psicológico e frequentando uma turma de EJA

O caso do B.A. parece-me que é um daqueles que deixam claro que as muitas teorias cognitivas apontam frenéticamente para que se modifiquem as metodologias de ensino. “Ele não se alfabetiza”, mas vive de forma autônoma, pressupondo que ele é letrado. Se este aluno se localiza na cidade, encontra endereços e reconhece as regras de convivência, ele faz leituras de mundo. Se ele é capaz de ler as normas sociais por que não é capaz de ler e escrever? As observações me despertaram a curiosidade para as questões da psicanálise e da pedagogia. O que fazer para esse aluno conseguir decifar os códigos gramáticos? A ajuda dos psicanalistas é primordial. Mas e o compromisso do professor? Como saber se a dificuldade em questão não é do professor e da sua metodologia de ensino? Muito embora eu saiba que neste texto eu deva tecer relações entre as teorias e os casos observados, encontro na bibliografia que embasa essas reflexões, muitos questionamentos quanto a essas práticas.

No caso do C.A., acredito que a dificuldade tenha um fundo emocional. Pois a carência demonstrada indica que o mundo dele encontra-se muito distante da exploração promovida pela insitituição que ele frequenta. Ele tem no seu histórico a perda da mãe, e uma sucessão de descuidos em relação a sua infância. Realidade que parece ter mudado apenas no último ano, período em que ele demonstrou melhoras significativas.

Acerca das aulas de capoeira angola que se colocam nesse espaço como mais um estímulo, poderia dizer que realmente serviu ao propósito, pois,  segundo o intrutor, eles respondem muito bem às aulas. Este acrescenta, ainda, que não tem uma aula adaptada para estes alunos e que não tem dificuldade de ensiná-los assim mesmo. Este intrutor não tem formação acadêmica. O título de instrutor foi conferido pela Escola de Capoeira Angola Áfricanamente, instituição da qual ele faz parte.

Uma comparação dos casos observados com aqueles estudados em aula é inevitável, e considerando isso é possível dizer que as buscas psicanalíticas apresentadas na bibliografia não ocorre na instituição pesquisada, pois caso contrário os progressos seriam maiores, ou minimamente, os diagnósticos seriam revistos, mas não. É necessário contar com a possibilidade de sonegação dos dados, mas uma vez que houve o compromisso de não divulgar os nomes dos alunos e nem da Instituição essa atitude seria desnecessária.

É inquietante perceber que, talvez, os progressos em relação a esses alunos estejam esbarrando num sistema que está comprovadamente falido. A impressão que ficou é que esses alunos tem um potencial maior do que o projetado para eles e que o atendimento, embora seja de qualidade, não tenha esmero na busca por soluções para que esses alunos voltem ao convívio social de forma plena e não como deficientes mentais.

6. Considerações finais

Ao final da observação, fiquei com uma sensação de que pode ser feito algo melhor para esses alunos e para tantos outros que apresentam alguma diferença. Parece-me que em dois casos observados, pelo menos um deles, se trata apenas de diferença de ritmo, não de dificuldade de aprendizagem. E no outro caso acredito que as causas são visíveis  e passíveis de resolução com um atendimento psicológico adequado somado a uma prática pedagógica não modeladora e padronizante.

Para finalizar, reitero minhas dúvidas quanto à prática de padronizar todas as crianças num mesmo patamar e para aquelas que não se encaixam é dado o rótulo de portadoras de dificuldades de aprendizagem. É necessário repensar as práticas pedagógicas e as práticas médicas no tangente à essa questão, pois os serviços públicos de saúde parecem fomentar os modismos e os diagnósticos severos em demasia, expondo crianças à uma condição de doente.

É premente observar as necessidades das crianças e enxergá-las como sujeitos do seu conhecimento e que, portanto, para cada uma é preciso ter um método diferente.

Referências Bibliográficas

BERGÈS, Jean., BERGÈS-BOUNES, Marika., CALMETTES-JEAN, Sandrine. O que aprendemos com as crianças que não aprendem?, Porto Alegre: CMC, 2008. 250 p.

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[1] Código referente a deficiência mental grave, mas foi descrito no diagnóstico arquivado como deficiência mental moderada.

[2] Aqui acontece o mesmo do caso anterior. Mas nesse caso essa Cid é atribuída à Deficiência Intelectual.

[3] Retirado do Site: http://www.nce.ufrj.br/ginape/publicacoes/trabalhos/renatomaterial/teorias.htm em 18/06/2010.

[4] Professor dos Hospitais, unidade de Psiquiatria Infantil, Hospital Necker Enfants-Malades, 149, Rue de Sévres, 75015 Paris e Universidade René Descartes (Paris V), França.


Publicado por: Liziane da Silva Barbosa

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.