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Bola de meia, bola de gude - Cantando e brincando a gente aprende

Resgatando valores e brincadeiras, ampliando o repertório musical assim como desenvolver a habilidade em produzir textos,...

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Secretaria da Educação do Estado de São Paulo/ E.E. Prof. “Domingos de Macedo Custódio”, Praça Benedito Ugolino da Silva Guerra, 311, Vila São Benedito, São José dos Campos/SP.
e-mail: maira_cfernandes@yahoo.com.br

Resumo - Esta pesquisa teve como metas resgatar valores e brincadeiras e ampliar o repertório musical dos alunos assim como desenvolver suas habilidades em produzir textos. Com uma temática voltada para a infância foi possível tratar de diversos assuntos referentes aos problemas sociais como: violência, discriminação, trabalho infantil e pobreza e também o lado lúdico da infância: a brincadeira, a imaginação, a fantasia, a música, a liberdade, o amor. Numa proposta intertextual o projeto discorreu sobre uma infinidade de temas a partir da música Bola de Meia, Bola de Gude (Milton Nascimento e Fernando Brant) e se enfatizou na produção de um coral, algo até então inusitado na comunidade escolar na qual o projeto foi inserido. Com os referenciais teóricos de Brito (2003), Carvalho (2005) e Almeida (1998) e sob uma perspectiva dos PCN’S o trabalho foi efetivado com sucesso tendo todos os objetivos almejados deixando, sobretudo, “um gostinho de quero mais”.

Palavras-chave: Arte, música, cultura, lúdico, educação

Área do Conhecimento: Educação

Introdução

Esta pesquisa teve como objetivos resgatar valores e brincadeiras através da música, sob uma perspectiva interdisciplinar, a música tornou fonte de motivação e aprendizado cognitivo, sensitivo e interpessoal além de proporcionar uma dinâmica positiva na sala de aula e em toda a escola. A brincadeira por sua parte teve um objetivo primordial, já que

A inserção do brincar livre, espontâneo, no currículo educacional e, conseqüentemente, nos projetos pedagógicos das instituições educativas, é um processo de transformação política e social em que crianças são vistas pelos educadores como cidadãs, isto é, cada uma como sujeito histórico e sociopolítico, que participa e transforma a realidade em que vive.(CARVALHO, 2005, p. 218)

Esse trabalho surge através da apresentação da música Bola de Meia, Bola de Gude (Milton Nascimento e Fernando Brant) na versão de Skank. Com uma musicalidade alegre as crianças se motivaram e a partir do estudo da letra da música o interesse foi maior ainda, surgindo a idéia de fazer um projeto que trabalhasse música, brincadeiras, infância e sentimento.

Tendo como hipótese que a música atua de maneira singular no indivíduo e que facilita o processo de aprendizagem já que guardar a letra de uma música é mais fácil que decorar um texto, investimos na possibilidade de ampliar o repertório
musical dos alunos e assim enriquecer as aulas, tornando o ambiente agradável e facilitador da aprendizagem.

Como referenciais teóricos foram utilizados os pressupostos de Brito (2003) que nos aprofundou no conhecimento sobre a música e sua ação na educação, na sala de aula, Carvalho (2005) e Almeida (1998) que nos contribuiu com o lúdico, com o verdadeiro significado dos jogos e brincadeiras para a formação humana.

Materiais e Métodos

O projeto foi realizado numa sala de aula com vinte e quatro alunos, todos alfabetizados, numa escola de classe média baixa, situada na zona urbana da cidade.

Observando a realidade e os hábitos culturais dos alunos, nos propomos a oferecer, a ampliar o repertório musical e contribuir para uma mudança de valores e conhecimentos a cerca da música e das brincadeiras.

Esses objetivos surgiram quando a música Bola de Meia, Bola de Gude foi apresentada a classe e devido a sua temática conseguimos unir os dois pontos que queríamos trabalhar: a brincadeira e a música.

Primeiramente trabalhamos a letra da música, fizemos uma interpretação, conhecemos seus compositores e cantores e a apreciamos ouvindo-a e cantando-a:

...E me fala de coisas bonitas que eu acredito que não deixarão de existir...(NASCIMENTO, Milton)

Devido à empolgação e motivação que os alunos demonstraram com a música, novas idéias começaram a surgir: a primeira delas era formar um coral. Conversando com as professoras de Artes e Educação Física iniciou-se um novo caminho para aquela sala.

Através da ajuda de um músico voluntário – um regente – e de um flautista, começamos a ensaiar aos sábados, fora do horário letivo, o nosso coral.

Os alunos fizeram um trabalho vocal e começaram a compreender e entender a música, a musicalidade.
Ao mesmo tempo em que estavamos ensaiando, fomos procurando outras músicas de uma mesma temática (infância, brincadeiras e valores). Dessa busca surgiram: O Menino Maluquinho (Milton Nascimento), Criança não trabalha, criança dá trabalho (Paulo Tatit), Saiba (Adriana Partimpim e Arnaldo Antunes), Oito Anos (Adriana Partimpim), Linda Juventude (Flávio Venturini e Márcio Borges), Minha Vida (Lulu Santos) e Coração de Estudante (Milton Nascimento).

O trabalho foi intertextual, fizemos análises das músicas comparando-as com textos, fotos, obras de arte, poemas. Estudamos a história das músicas e refletimos sobre suas letras e melodias.

A união da música com as brincadeiras fizeram com que criássemos e produzissemos brinquedos antigos, através de uma pesquisa os alunos descobriram um pouco a infância de seus pais e avós e através destas descobertas conseguimos resgatar algumas brincadeiras, como: peteca, cinco marias, telefone de lata, pé de lata entre outras.

O coral também começou a ter resultados positivos, primeiro conseguimos o apoio da loja Pernambucanas que nos ofereceu a camiseta para o nosso projeto, conseguimos também um teclado emprestado, deixando nosso coral mais bonito e agradável.
Produzimos alguns instrumentos musicais como: chocalho, pauzinhos, tambor e junto com outros que possuíamos: triângulo, prato montamos uma pequena banda.

Construímos também alguns brinquedos: bilboquê, peteca, vaivem, telefone e pé de lata, bola de meia, pipa.

Fizemos: amarelinha, jogo da velha, dama, xadrez, caracol, coelhinho sai da toca, dando um novo olhar e colorido para a escola.

Assistimos ao filme O Menino Maluquinho que emocionou-nos com sua história de peraltices, porém, respeito e amor pelos mais velhos e lemos também o livro, com mesmo título, de Ziraldo.

Esse projeto conseguiu abranger uma infinidade de atividades e reflexões sobre o trabalho infantil, a violência doméstica, a criminalidade infantil, a pobreza. Refletimos também sobre as diferenças de épocas: a infância antes e a de hoje, as brincadeiras antigas e as modernas.

...O tempo do menino maluquinho é um tempo que existe só na infância mas ele é eterno dentro de nós, gruda feito chiclete, feito esperança... (NASCIMENTO, Milton)

Várias tempestades de idéias foram feitas a respeito dos valores tratados na música tema do projeto e inúmeros textos surgiram destas tempestades de idéias. O projeto se tornou interdisciplinar, pois atingiu de maneira satisfatória diversas áreas do conhecimento chegando a tratar de assuntos ambientais e regionais ao se deparar com as diferenças de épocas.

Conseguimos proporcionar um passeio ao Museu do Folclore que estava com uma programação sobre brincadeiras antigas enriquecendo imensamente nosso projeto.

Neste mesmo período da visita, fizemos nossa primeira apresentação na festa cultural da escola e apresentamos para a comunidade o pouco que já tínhamos aprendido. Foi emocionante e uma situação interessante, amigos, pais, parentes nos assistindo, nos ouvindo silenciosamente e quando terminamos palmas e gritos de alegria.

Resultados

Os resultados foram além do esperado, quando iniciamos o projeto não acreditávamos que tantos fatos iriam acontecer, a camiseta, o regente, o flautista, o teclado, a motivação de todos na realização do projeto vieram a somar e construir uma nova realidade musical na sala de aula.

Apesar de nem todos os alunos participarem do coral, não fez com que eles não participassem do projeto, produziram, trabalharam, cantaram e se motivaram da mesma maneira que os outros, porém não ensaiaram aos sábados no coral.
Através da observação podemos verificar uma mudança de interesses musicais, de conhecimento de sons e melodias, de disciplina quanto a barulhos, respeito a quem vai falar. Quanto a escrita houve um crescimento de vocabulário, de rimas, de criação. Quanto a conteúdos atitudinais, a classe como um todo teve um amadurecimento nas brincadeiras, nas participações, houve uma maior participação oral, diminuiu-se a timidez e a vergonha em se expor.

Em relação aos trabalhos executados criamos brinquedos e instrumentos com materiais reaproveitáveis, fizemos debates sobre o trabalho infantil e sobre a violência doméstica demonstrando uma maior criticidade e reflexão sobre questões tão importantes e atuais.

E, como produto final, montamos um pequeno vídeo de fotos e acontecimentos do nosso projeto, e fizemos uma formatura para apresentarmos aos pais e parentes o coral e o vídeo com todos os nossos trabalhos.

Discussão

O mais relevante neste projeto foi conseguir mostrar e fazer com que os alunos respeitassem os gostos e estilos musicais diferentes dos seus. A princípio houve uma rejeição em algumas músicas, porém o trabalho vocal e as melodias fizeram perceber que a música nos traz significados e sensações independentes do gosto musical, do estilo que estamos acostumados.

Em um evento que a sala participou, a banda da Polícia Militar estava tocando e foi interessante quando eles começaram a tocar Linda Juventude e os alunos todos perceberam a música e começaram a cantá-la, foi emocionante pois, eles ficaram felizes em conhecer e poder cantar uma música junto com a Polícia Militar, eles se sentiram importantes.

Outro assunto tratado e discutido em sala de aula foi a criminalidade infantil, a participação de crianças no tráfico de drogas, essa reflexão proposta e aplicada possibilitou compreendermos a realidade social e sugerir idéias de intervenção para a transformação dessa realidade.

Incentivar, dar voz e importância aos alunos é o começo para uma educação para a cidadania. Oferecer condições para se expressar, se desenvolver, brincar e estudar de maneira lúdica e agradável é contribuir para uma educação de qualidade e fazer projetos que enfatizem a brincadeira, a música, a infância é primordial na consecução destes objetivos.

Conclusão

Através dos eventos, atividades realizadas em sala e apresentações podemos evidenciar que os objetivos foram atingidos e que nossa hipótese foi realizada com sucesso.

As últimas semanas de aula e a organização do evento para a apresentação final demonstrou que o projeto não só tocou os alunos, mas toda a comunidade que contribuiu para realizar um dia especial, conseguimos um salão da comunidade, os enfeites, a decoração, a bebida e a comida para o evento.

Assim, como todo o projeto sua finalização foi um sucesso, a apresentação do coral, a postura dos alunos frente à comunidade e a alegria de todos fizeram com que o projeto Bola de Meia, Bola de Gude deixe saudades.

Referências

ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação Lúdica: técnicas e jogos pedagógicos. Edições Loyola. Ed. 9. São Paulo, 1998. ISBN 85-1500194-2

ANTUNES, Arnaldo. PARTIMPIM, Adriana. Saiba. Música

BRITO, Teca Alencar de. Música na educação infantil: Propostas para a formação integral da criança. São Paulo : Peirópolis, 2003. ISBN 85-85663-65-0

CARVALHO, Alysson Massote; ALVES, Maria Michelle Fernandes; GOMES, Priscila de Lara Domingues. Brincar e educação: concepções e possibilidades. Psicol. estud. , Maringá, v. 10, n. 2, 2005 . Disponível em: . Acesso em: 10 Jan 2008. doi: 10.1590/S1413-73722005000200008

NASCIMENTO, Milton. BRANT, Fernando. Bola de meia, bola de gude. Música

NASCIMENTO, Milton. Coração de estudante. Música

NASCIMENTO, Milton. Menino Maluquinho. Música

PARTIMPIM, Adriana. Oito Anos. Música

RATTON, Helvécio et al. Menino Maluquinho – O Filme. Brasil: RioFilme, 1994.

TATIT, Paulo. Criança não trabalha, criança dá trabalho. Música

SANTOS, Lulu. Minha Vida. Música

VENTURINI, Flávio. BORGES, Márcio. Linda Juventude. Música

ZIRALDO. O Menino Maluquinho. ed. 20. São Paulo : Melhoramentos, 1986. 107p. ISBN 85-06-00013-0


Publicado por: MAIRA CRISTINA FERNANDES

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