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A representação subjetiva das bebidas alcoólicas no adolescente e os fatores influenciadores no consumo do álcool

álcool, identidade dos jovens, consumo, adolescentes, pós-modernidade.

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RESUMO

O presente artigo refere-se a uma revisão de literatura sobre o assunto da representação subjetiva do álcool nos adolescentes e os fatores influenciadores no consumo do mesmo. Apresenta conceitos relacionados ao álcool e à identidade dos jovens, além de uma contextualização do consumo do álcool na sociedade capitalista atual.
Palavras-chave: álcool, consumo, adolescente, identidade, pós-modernidade.

INTRODUÇÃO

O consumo de bebidas alcoólicas tem aumentado bastante nos últimos anos, principalmente entre os adolescentes, é relevante então saber como esses jovens enxergam e interpretam o álcool dentro do contexto sócio-cultural em que vivem e quais são os fatores que influenciam o consumo dessas bebidas por esses jovens, principalmente no Brasil.

IDENTIDADE JUVENIL NA PÓS-MODERNIDADE

Ao discorrer sobre a representação subjetiva dos jovens com relação ao álcool devemos contextualizar a construção da identidade desses adolescentes no mundo atual. Estamos vivendo o que poderíamos dizer de uma crise cultural global, vivemos na era pós-moderna em que é difícil e fácil ao mesmo tempo delimitar uma determinada cultura ou padrões a serem seguidos, o certo seria relatar que é a era da cultura global, valores culturais padrões para todo o mundo são criados para um maior lucro do sistema econômico dominante no mundo, o capitalismo, assim como as diferenças culturais territoriais são também exaltadas como formas de produtos a serem vendidos no mercado global. Bem, e o que isso tem a ver com os jovens? Tem a ver na forma como os meios de comunicação em massa influenciam na construção da identidade deles.

É importante salientar neste artigo sobre o significado de representação subjetiva, ou, segundo Boa Sorte (1998), imaginário, pois as imagens são de fundamental relevância na construção da identidade (modo como as pessoas vêem a si próprias, mas não como sujeitos psicológicos, e sim como agentes ativos, cujo sentido do eu é projetado sobre, e expressado em, uma gama de práticas culturais em expansão, incluindo textos, imagens e mercadorias) de qualquer pessoa, e principalmente dos adolescentes. Existem três fases que constituem o conceito de imaginário: a fase da sucessão, que representa a dicotomia entre o real e o imaginário, nada é imaginado sem o real, ou a visão anterior de algo concreto (real); a fase da subversão, “o imaginário torna-se o único real e a imaginação, o caminho da realização”, essa fase foi bastante evidente no Romantismo, em que a fuga do real era o tema; e a fase da autorização, em que o imaginário tem uma função psíquica tão importante quanto o real, a forma que damos ao mundo e a nossa vida representa a nossa maneira de agir e de interpretar os fenômenos da vida.

A Pós-modernidade apresenta um clima cultural que nos domina, um dos maiores exemplos é a moda. No processo de desenvolvimento da identidade pelo jovem o que predomina é o sentimento de pertencimento, representações individuais e coletivas se confundem, pois o indivíduo constrói seus valores fundamentando-se no que o seu grupo social apresenta, e ao mesmo tempo ele acrescenta valores a si mesmo e ao seu grupo, através de críticas e do imaginário interpretativo que ele tem dos fatos da vida.

Citando Acselrad (2000):

O imaginário social contemporâneo parece impregnado de uma visão de mundo e dos sujeitos inteiramente regidos por instâncias heterônomas (Castoriadis, 1982), que esvaziem seu poder normativo, ou seja, sua capacidade de criar normas de funcionamento para si e para a sociedade. Diante das forças invisíveis e abstratas da economia, da inevitabilidade orgânica e concreta dos genes e hormônios, ou das estruturas inescapáveis do psiquismo, pouco resta para a ação, para a invenção. No final, parecemos todos condenados a fazer na vida pouco mais do que uma figuração discreta em uma peça cujo roteiro nos é imposto e cuja razão de ser nos escapa. (ACSELRAD, 2000, pg. 37)

Campos da vida social tornam-se espetáculos a partir de imagens, e a sociedade pós-moderna salienta bastante esse lado da imagem.

A mídia tem um papel fundamental na representação subjetiva dos jovens, já que ela, através da televisão principalmente, é o meio de comunicação em massa que tem o maior poder na sociedade mundial atual.

O álcool é o que Pons Diez e Berjano Peirats (1999) chamam de “droga institucionalizada”, cuja presença e consumo estão plenamente integrados nas pautas de comportamento social, que gozam do respaldo da tradição histórico-cultural e cuja produção, venda e consumo não são penalizados. As propagandas têm um efeito importante nesse imaginário de que o álcool não é droga, ou é uma droga “leve” e que por ser lícita não prejudica a vida, pelo contrário traz benefícios. É essa visão que grande parte dos jovens brasileiros têm das bebidas alcoólicas.

Na Pós-modernidade, as imagens são criadas visando a “sedução do sujeito”, os meios de comunicação em massa “retocam” a realidade de maneira a torná-la mais atraente, existe um culto à imagem. Isso é resultado do sistema capitalista dessa nova era, o qual transformou o consumo em uma instituição que determina um conjunto de valores com função de integralização e controle social. Então, por exemplo, as propagandas de cerveja apresentam mulheres bonitas e sensuais que estão junto de homens bonitos e inteligentes, mostrando que quem consumir essa bebida ficará com as mesmas características de beleza. O sentido de “ter” passa a substituir o sentido de “ser”, para ser alguém socializado e inserido em um grupo social você precisa ter certas coisas, no caso dos adolescentes, para eles estarem inseridos em seu grupo eles precisam beber, ou ter a bebida alcoólica no seu cotidiano.

Dados mostram que a questão das bebidas alcoólicas é algo que está sendo estudado em maior quantidade há não muito tempo, artigos referentes às drogas ilícitas eram escritos em maior quantidade que os referentes ao álcool, apresentando a juventude como curiosa e inocente, e isso é resultado de uma necessidade do mercado, já que o álcool é um produto de consumo bastante lucrativo.

Ressaltando, o álcool então é um fator de socialização, a qual faz parte inerente da identidade do adolescente, e pelos jovens ele não é muito percebido como uma droga, pois não é proibido e é adquirido e consumido com facilidade.

O CONSUMO DO ÁLCOOL

Droga é toda e qualquer substância, natural ou sintética que, introduzida no organismo modifica suas funções e produz alterações dos sentidos. O termo droga, presta-se a várias interpretações, mas ao senso comum é uma substância proibida, de uso ilegal e nocivo ao indivíduo, modificando-lhe as funções, as sensações, o humor e o comportamento.

O álcool é a droga mais antiga de que se tem notícia, é conhecida por todas as civilizações, sendo bem ou mal vista, dependendo dos valores de cada cultura. Determinadas religiões evidenciam o uso de bebidas alcoólicas em comemorações, festas, rituais, mas na grande maioria dos grupos, o álcool era, e ainda é, utilizado não apenas para cerimônias místicas e religiosas, como também para relaxar a censura e facilitar e integração de seus elementos.

Segundo Boa Sorte (idem) existem cinco categorias principais que caracterizam o consumo do álcool: ocorrência e freqüência; motivos; efeitos; opiniões, e outras questões. Para os jovens o álcool pode representar um fator de agregação social, um fator interno de imagem social mais importante, um desenvolvimento da identidade com a assunção de papéis da vida adulta. E a grande influência da mídia no consumo ajuda para que os adolescentes tenham uma visão ingênua da cerveja, bebida mais consumida pelos jovens, principalmente os brasileiros.

A ocorrência e freqüência com que o álcool está sendo consumido pelos jovens brasileiros estão cada vez mais aumentando, e o início do uso está sendo cada vez mais cedo. Uma pesquisa realizada pela UNESCO (2001) em 14 capitais brasileiras com estudantes de 10 a 24 anos, resultou em tais dados: 42,2% relataram que nunca bebem; 45,9% bebem somente em ocasiões sociais e festas; e 9,9% bebem regularmente. Ressaltando que o grupo de 19 a 24 anos é o grupo menos representativo na pesquisa, e o grupo de 13 a 15 anos é o mais representativo.

Os motivos para o consumo do álcool pelos jovens são de uma multiplicidade de fatores associados que dão sentido mediato e imediato ao uso. Abramovay (2005) comenta sobre: o prazer temporário do consumo; e seu sentido de mediador de sociabilidade ou de desinibidor e estimulante de relações entre pares (em suma, uma cultura naturalizada, caracterizada no “beber socialmente”). A curiosidade e o desejo de inserção social se mesclam na ânsia de beber do jovem, além de começar a beber ser considerado um simbólico tiro de iniciação – sentir-se adulto.

De acordo com Galduróz (1996):

Tal curiosidade apóia-se na facilidade de acesso às drogas, na propaganda, nos atrativos simbólicos e nos significados sociais coletivos e existenciais que o indivíduo atribui ao consumo dessas substâncias (como ganhos hedonísticos, transgressão à ordem da razão ou o direito à fantasia e ao inconsciente). (GALDURÓZ, 1996, apud ABRAMOVAY, 2005.).

Há limites para cada sociedade com relação ao uso/abuso do álcool, pois o abuso é justamente desvios das normas e padrões de comportamentos sociais e culturais do ambiente. Já o alcoolismo é uma doença caracterizada por um consumo regular de bebidas alcoólicas, e por uma tolerância (mitridatismo) cada vez maior em relação à droga, o indivíduo tem que tomar, progressivamente, doses maiores para produzir o mesmo efeito que antes. E se ele parar de tomar pode sofrer os efeitos da síndrome de abstinência. Essa doença apresenta fatores biológicos (hereditariedade, síndrome de abstinência), psicológicos e, principalmente, sociais.

Importante salientar a influência da família, do grupo de amigos, da religião e da mídia no consumo do álcool pelos adolescentes, como a mídia já foi bastante enfatizada anteriormente, abordaremos os outros a seguir. Ressaltando que nenhum fator de influência é responsável isoladamente pelo uso de álcool nos jovens, são vários fatores atuando, uns em menor e outros em maior escala, na caracterização de beber.

A família é um referencial comportamental básico para o jovem, e ela pode influenciar o consumo tanto no plano da experimentação quanto no regular. A atitude mais ou menos crítica dos pais, bem como suas próprias pautas e parâmetros de consumo, podem atenuar ou reforçar a influência de instituições como agentes desencadeadores do processo de experimentação, além de influenciar na legitimidade conferida ao uso dessas bebidas. Então se pais que consomem bebidas alcoólicas mais freqüentemente e que não consideram o álcool como uma droga realmente, pode ajudar no consumo futuro do filho, pesquisas mostram que grande parte de adolescentes experimenta o álcool na sua própria casa ou em reuniões familiares. Pais relatam que é papel da família orientar e explicar como fazer uso da bebida, uma vez que esta é percebida como um mal, mas um mal anulado quando o consumo é moderado (ABRAMOVAY, 2005, pg 37).

Entre os jovens o grupo de amigos possui uma grande influência sobre seus padrões de comportamento. Para os jovens, beber é um ritual de sociabilidade, sendo uma auto-afirmação frente aos amigos. Nos grupos, a bebida pode ser também um fator de aproximação e de identificação entre seus membros. Existe uma associação também entre o ato de beber e a masculinidade do homem, a construção do ser homem a partir de certos parâmetros, a construção social do homem adulto.

A religiosidade, ou ter alguma religião, é apontado como inibidor do consumo de bebidas alcoólicas, dependendo de cada religião também, funcionando como uma forma de proteção contra o uso. Aqueles jovens que possuem uma religião, geralmente não consomem, ou consomem poucas bebidas alcoólicas, talvez pelo fato de eles terem a religiosidade como uma forma de lazer, além de grupos de amigos que em geral também não bebem. Ter religião também pode estar sinalizando para os efeitos contrários ao envolvimento com o álcool, o sentido de pertencimento a uma comunidade de valores, projetos e ética de vida, nortes não necessariamente exclusivos de ideários e práticas religiosas.

Ressaltando o papel da mídia, Abramovay, 2005, diz:

No caso dos jovens, não somente há propagandas especialmente desenhadas, como faz parte do vocabulário subliminar associar-se bebidas à juventude, passando essa a ser um sedutor em si, em uma sociedade hedonística, que privilegia aparências e equaciona beleza com juventude ou um tipo de juventude. As bebidas alcoólicas são construtos de elixir de juventude e estão formatadas como brancas, de classe média ou alta, alegres e em situações de lazer, festa e esporte. Os jovens, portanto, mais que o público-alvo, é um capital simbólico, reelaborado nas propagandas de álcool (ABRAMOVAY, 2005, pg. 42).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A representação que o jovem tem sobre as bebidas alcoólicas é influenciada por vários fatores, que associados, podem aumentar ou diminuir a freqüência do consumo do álcool pelos adolescentes. A forma de a identidade ser construída na sociedade atual também é muito importante de se comentar, para que possamos refletir sobre quais são os reais valores constituintes das nossas ações e como o álcool continua sendo, desde milênios atrás, a droga mais fácil e progressivamente consumida e, conseqüentemente, de grande relevância na sociedade principalmente a juvenil.

REFERÊNCIAS

ABRAMOVAY, M. Drogas nas escolas: versão resumida/ Miriam Abramovay, Mary Garcia Castro. Brasília: UNESCO, Rede Pitágoras, 2005.

ACSELRAD, G.. Avessos do prazer: drogas, Aids e direitos humanos. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2000.

SORTE, N. F. B.. O imaginário do adolescente sobre o consumo de álcool e o processo de construção da identidade: implicações na educação e prevenção. Salvador: Universidade Federal da Bahia, Dissertação de Mestrado, 1998.

SECRETARIA NACIONAL ANTIDROGAS. Álcool o que você precisa saber. Brasília, SENAD, 2000, Série Diálogo n° 06.

Marcela Silva Alves de Moraes

Estudante de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal da Bahia, disciplina Educação e Identidade Cultural, 2007.

Publicado por: Marcela Silva Alves de Moraes

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