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Andiroba apresenta: Mangabeira, o pescador de assombração

História de Mangabeira.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

PROTAGONISTAS:

Mangabeira(Mangaba)- Lúcio: nascido em Andiroba/MG, 40 e poucos anos de idade, solteiro. Calmo, solidário, amigo de todos, membro da Conferência de São Vicente de Paulo, participante ativo das festas de Santa Ana (padroeira de Andiroba/MG), excelente pintor e exímio pescador.

Negão-Dionísio: Nascido em Andiroba/MG, comunicativo, deixava a vida lhe levar, desde que regrada com substâncias estimulantes. Foi assassinado na praça de Andiroba.

CAUSO:

Numa sexta-feira, noite de lua nova, O Mangabeira, querendo fugir do agito do centro de Andiroba/MG, ajeitou as varas de anzóis, abasteceu o embornal com iscas, cigarros e pelo menos uns 250 ml de um destilado especial para espantar pernilongos e, sem qualquer cerimônia, dirigiu-se ao sítio do Éder e família para uma desestressante pescaria.

Chegou ao lago por volta de 19h30min, onde, certamente, ficaria por umas 04 ou 05 horas, como era seu costume. Entretanto, às 20h30min, ou seja, apenas uma hora após a sua chegada ao pesqueiro, o Mangabeira bate às portas da casa do sítio em que estava e, juntamente com o anfitrião, tomou uma boa dose de cachaça. Daí foram para a varanda para um bate papo no bom estilo de mineiros: conversa regada a pinga e tira-gostos. Para puxar um assunto o Mangabeira foi logo contando um fato ocorrido na última vez que foi ali pescar:



“A última vez que vim aqui era também uma noite de lua nova. Peguei cinco traíras e nove bagres e só fui embora quando o destilado para espantar mosquitos acabou. Cheguei a minha casa, depois de tomar uma saideira no bar do Gilmar, por volta de 23:30horas. Com preguiça de limpar os peixes, tirei-os do embornal, acomodei-os num saco plástico, abri a geladeira e os coloquei na gaveta que fica no fundo da geladeira. Voltei para a pia, ajeitei os outros apetrechos, lembrei-me de fechar a geladeira e fui tomar banho. Antes de entrar no banheiro, escutei um barulho vindo da cozinha, voltei depressa e percebi que o som vinha de dentro da geladeira. Fiquei aliviado, pois eram os peixes que eu havia colocado ali há poucos minutos.

Entretanto, depois do banho, preparando-me para dormir, por volta de 00h30min, escutei o barulho novamente, só que mais forte. Foi aí que pensei: -Ué, será que os peixes que peguei há mais de três horas e na geladeira há mais de uma hora podem ainda estar vivos e com condições de fazer tanto barulho? É melhor eu verificar.

Fui até a cozinha e levei o maior susto quando abri a geladeira: A gata da casa saiu lá de dentro, pulou para cima de mim e, miando alto, fugiu para o terreiro. -Acho que a prendi quando voltei para fechar a geladeira, depois de ter colocado os peixes ali. Tadinha, ficou presa por mais de uma hora dentro da geladeira. Mas também quem mandou comer meus peixes. Ela teve sorte de eu ter bebido pouco e não ter dormido. Já pensou uma gata passar a noite inteira dentro de uma geladeira? Mas,pensando melhor, acho que a sorte foi minha, pois se a gata tivesse morrido a minha mãe me mataria.



Terminada a história, boas risadas foram dadas, tomaram mais uma dose e o Mangabeira foi indagado sobre a razão de sair tão cedo do pesqueiro e sem nenhum peixe, visto que tinha fama de não ter pressa de ir embora e sempre com vários peixes no embornal, ao que respondeu que era porque a noite não estava boa para peixes.

Mais uns golinhos, voltaram ao assunto e o Mangabeira acrescentou que a sua saída do pesqueiro se deu em virtude de haver escutado algo se movimentando no meio do canavial que ficava próximo ao lago.

Iniciadas as saideiras, o Mangabeira, já bem mais falante, retomou o rumo da prosa e disse que não foi só o barulho no canavial que o assustou, mas sim um vulto de um animal. Mas, em razão da distância e da escurdião, não foi possível distinguir se era um cachorro ou um coelho ou uma raposinha.

Após a última saideira, por volta de 22:00 horas, o Mangabeira foi embora e, antes de ir para casa, resolveu tomar mais umazinha no bar do Gilmar (Bar Avenida, atualmente do Rômulo e da Eduarda).

No meio de amigos, conversa vai, gole vem, o Mangabeira resolveu falar sobre o vulto que vira no canavial.

Entretanto, talvez em razão dos efeitos que as saideiras já estavam por fazer, o barulho, que havia se transformado em vulto de coelho (ou cachorro), foi mudando de feição e, contam os amigos ali presentes, que tornou-se um barulho ensurdecedor até aparecer um vulto enorme, com olhos grandes e, de tão vermelhos, pareciam que soltavam labaredas de fogo.

Nisso, todos do bar estavam admirados e muito interessados no desfecho daquela pescaria. Foi então que alguém sugeriu mais uma rodada de bebida, a saideira, para escutarem melhor a história do Mangaba (apelido do Mangabeira/Lúcio). E assim foi. Mais uma rodada e todos estavam preparados para ouvir o final do caso e descobrir que criatura monstruosa era aquela que escolheu Andiroba para assustar e, quem sabe, residir e fazer vítimas.

Mangabeira, que não tem pressa, acendeu um cigarro que alguém lhe deu e continuou, agora com mais ênfase:


“ Só pelo barulho que a coisa fez eu já fiquei com as pernas tremendo e o meu coração batia mais que tamborim de escola de samba. Olhei para cima e o céu estava limpo. Portanto, para minha intranqüilidade, aquilo não foi um trovão. Então pensei que o melhor que deveria fazer era correr, mesmo que as pernas não quisessem obedecer. Juntei minhas tralhas de qualquer maneira e comecei a andar depressa no sentido da casa. Antes de chegar na cerca do pasto, ouvi barulho de passos rápidos, além de fazer a terra tremer, pareciam que estavam mais perto de mim. Tive coragem de parar e olhar para trás, quando vi a criatura já no lugar em que eu estava pescando. Fiz o sinal da cruz e roguei a todos os anjos e santos para me protegerem, e pernas prá que te quero...corri muito e atravessei a cerca de arame sem ver.”



- Qual o tamanho dele? Como era? Parecia gente? Era um bicho? Tinha chifres? Soltava fogo? Tinha cabeça? Era de uma perna só? Tinha dentes grandes? Estava nu? Tinha pelos? Era meio homem e meio lobo?...Perguntavam seus interlocutores.

Foram tantas perguntas que o Mangaba não teve alternativa antes de respondê-las, tomou mais uma saideira.

Reabastecido, continuou:


“Tinha a aparência de um homem muito alto, andava de pé (com duas pernas) e com os braços abertos. As orelhas eram grandes, mas o que mais aterrorizava eram os olhos grandes que, tão de vermelhos, pareciam duas bolas de fogo. Isso sem contar o barulho infernal que fazia ao movimentar-se.” Numa pequena pausa para enxugar o restinho que havia no copo, o Mangabeira pensou um pouco, suspirou e arrematou: “Olha, pensando bem acho que ouvi a criatura chamar meu nome. Vou para casa rezar e amanhã vou pedir para celebrar uma missa para o NEGÃO.!!!!Acho que vocês deviam fazer o mesmo, pois ele voltou, o Negão voltou novamente, partiu daqui tão descontente, eis a razão de voltar.!!! Fui....Tiau!!!"

Com a ênfase dada a essa frase final, o Mangaba deixou todos apavorados, uma vez que o Negão (Dionísio) fora morto a facadas na praça de Andiroba/MG pouco tempo antes e, possivelmente, numa noite de lua nova.

Enfim, tudo leva a crer que, as orações do Mangabeira foram atendidas, pois até hoje não há relatos de que a criatura tivesse voltado para aterrorizar os andirobenses, seja em forma de barulho, coelho, lobisomem, ou assombração, independente da fase da lua. Contudo, vale pesquisar o motivo de Andiroba ficar deserta em noites de lua nova.

Para publicação no blog http://andirobaexiste.blogspot.com/


Publicado por: Éder Ângelo Braga

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