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O que tem motivado grandes empresas a investir parte do seu capital em projetos sociais?

A importância da ética e os impactos negativos nas empresas que se inserem em projetos de cunho social.

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Resumo

Cada vez mais as empresas de médio e grande porte têm investido em projetos sociais de forma a contribuir com o desenvolvimento humano e consequentemente com o meio ambiente. Este artigo visa uma compreensão dessas mudanças as razões que fizeram muitas empresas despertarem seus interesses por questões sociais e que muitas vezes investem em campanhas e ações, sejam por interesse próprio ou por marketing. A partir da análise de quatro fundações mantidas por empresas foi possível observar que esta tendência deve-se a um processo de autoconscientização da necessidade de fazer intervenções sociais, a uma consequente valorização de seus papéis na bolsa, a incentivos fiscais, a pressão de acionistas, e a uma preocupação com o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável.

O artigo apresenta ainda a importância da ética e os impactos negativos nas empresas que se inserem em projetos de cunho social, mostrando exemplos de grandes empresas que tiveram a sua imagem prejudicada, não mais conseguindo se reerguer no mercado e que ainda hoje são lembradas quando se falta de conduta ética e moral nas empresas.

Palavras-chave

Ética – responsabilidade social – intervenção social – humanização - desenvolvimento sustentável.

Introdução

Nos últimos trinta anos o Brasil tem obtido uma crescente tendência das empresas de grande capital idealizarem institutos e fundações destinadas a fazerem intervenções sociais para o desenvolvimento humano, defesa de direitos humanos e preservação dos recursos naturais.

Este artigo estuda os diversos fatores, e motivadores envolvidos nas ações de responsabilidade social/ambiental e a ética. Pretendemos aqui, responder por que essas empresas têm investido cada vez na qualidade de vida dos funcionários, bem como da comunidade onde estão inseridas. Bem como dos que compõe grupos minoritários em comunidades onde estão inseridas.

Primeiramente, farei uma contextualização histórica sobre a relação atividades industrial e trabalhadores, e como esta relação tem evoluído para um enfoque maior no homem. Em seguida discutirei conceitos básicos de ética empresarial, responsabilidade social, e a crescente atenção que esses fatores têm ganhado nas atividades empresariais. Analisarei também alguns exemplos de iniciativas de empresas socialmente responsáveis. E, finalmente discutirei as implicações, limitações e desafios desta prática.

Justificativa

A responsabilidade social se apresenta como um tema cada vez mais importante no comportamento das organizações e exerce grandes impactos nos objetivos, estratégias, visão, missão e valores da empresa.

O objetivo deste artigo é colaborar para uma melhor compreensão dos conceitos de responsabilidade social e ética, apresentando tanto os ganhos empresariais a partir dessas ações também as perdas empresariais devido a falta de projetos de cunho social. Busquei ainda trazer algumas contribuições no sentido de uma melhor compreensão da importância destas estratégias e dos benefícios que as mesmas podem trazer para a empresa dando ênfase a ética como pilar importante na formação do caráter e da moral tanto do profissional quanto da organização.

Este artigo me objetivou estudar a ética empresarial, numa forma mais profunda, que me fez entender melhor situações e comportamentos e utilizar ferramentas de responsabilidade social para agregar conhecimentos, estimular a organização a investir no capital humano e no social, como forma de gerar valor, riqueza e contribuir no crescimento social e responsável do nosso país.

Contextualização do Tema

A revolução industrial provocou diversas transformações nas estruturas da sociedade, nos modos de produção e distribuição de bens e serviços, na exploração de recursos naturais, e especialmente na organização do trabalho. A produção em escala[1], talvez a principal característica da revolução industrial, levada ao extremo em sua tentativa de maximizar a utilização de recursos para se obter a redução do custo de produção contribuiu para a omissão dos danos que este modo de produção causou à natureza e, consequentemente ao homem. Charles Chaplin demonstra com humor e sapiência esse fenômeno num de seus mais memoráveis trabalhos: Tempos Modernos. Neste filme, o gênio do cinema interpreta um trabalhador de uma fábrica numa linha de montagem, que pelo esforço repetitivo e inquestionável de seus movimentos, e na obsessão de seus gerentes de atingir resultados eficientes, torna-se um ser desumanizado, um robô, que mesmo depois de seu horário de trabalho sai da fábrica repetindo involuntariamente os movimentos do trabalho, como apertar parafusos, por exemplo. Em todos os locais da fábrica há a presença de um grande relógio para lembrar aos trabalhadores que “tempo é dinheiro.” Assim, se consagra a máxima que aumentar os lucros, independente de quaisquer consequências humanas, era, e continua sendo, o objetivo primordial das sociedades anônimas, e dos grandes conglomerados industriais. Talvez tenha sido esse um dos principais estorvos da revolução industrial: a transferência do enfoque das atividades produtivas, ou seja, do valor do trabalho antes feito artesanalmente pelo homem, para o lucro proporcionado pelas economias de escala.

No século XIX, com o surgimento da sociologia, tentou-se racionalizar essas consequências da atenção excessiva no lucro e no acúmulo de capital por parte das empresas e dos grandes capitalistas. Surgiram então, as primeiras teorias sociológicas do trabalho. Dentre as quais se destacam a de Marx e Durkeim, só para citar duas. Marx afirma que:

“O trabalho é a essência do homem, pois é o meio pelo qual nos relacionamos com a natureza e a transformamos em bens aonde vão se dar o valor, o trabalho é uma mercadoria, onde possui um valor de uso e um de valor de troca”.[2]

Dadas às péssimas condições de trabalho na época, Marx defendia a ideia de que o trabalhador, o proletário, deveria lutar para recuperar sua posição de destaque na sociedade, e com isso, tomasse posse dos meios de produção e os controlasse.

Durkeim, por outro lado, acreditava que:

“O indivíduo não teria importância nesse contexto de análise, já que ele não constrói a sociedade e suas instituições, mas as herda e deve se adequar ao contexto que elas proporcionam. Dessa forma, o indivíduo não influencia na divisão social do trabalho, apesar de executá-la”.[3]

Tenho aí ideias antagônicas quanto ao papel do indivíduo nos processos de produção, e da execução do trabalho diante de todas as formas de exploração da mão-de-obra, característica da revolução industrial em seus três primeiros séculos. As consequências deste descaso do trabalhador culminaram com revoluções, greves, e a criação de sindicatos que regulassem as profissões para amenizar a exploração. Dá-se o início a uma luta dos trabalhadores por leis que regulam o trabalho, por um tratamento humano e por respeito a direitos antes negligenciados pela classe patronal. O final do século XIX e início do século XX foram marcados por reivindicações de natureza ética nas relações das empresas com seus trabalhadores, e posteriormente estas reivindicações começaram a fazer parte de uma agenda que incluía não só o homem como o meio ambiente de onde as empresas, inescrupulosamente, retiravam e retiram recursos naturais como petróleo, matéria prima, e mineral para a produção de seus bens. Esta preocupação com a ética, iniciada nos países desenvolvidos já nas décadas posteriores à 2ª Grande Guerra, só chegou ao Brasil nos anos 90. Isto graças ao processo de redemocratização do país, e à globalização, que tem como uma de suas principais características a padronização de processos de produção. Entretanto, entretanto não se pode estabelecer uma relação direta entre globalização e o crescimento da conscientização sobre ética, pois o processo de internacionalização do capital não se baseia em princípios morais, mas sim financeiros. Uma indústria pode, por exemplo, transferir sua planta para um país onde as leis trabalhistas e ambientais sejam mais frouxas. O que se pode afirmar é que a disseminação da informação através das técnicas oriundas dos avanços tecnológicos podem produzir conhecimento e conscientização de procedimentos éticos praticados por empresas em suas relações com os trabalhadores e o meio ambiente.

Ética Empresarial e Responsabilidade Social

Uma sociedade onde não há regras e leis baseadas em valores morais, não subsiste e corre o risco de se tornar uma anarquia. No meio empresarial, então, imperaria a lei da selva, onde apenas os mais fortes, os mais adaptáveis sobrevivem, e estes lançariam mão de quaisquer meios para obter lucro e maiores fatias do mercado. Logo, conclui-se que é necessário que haja regras que rejam as empresas, assim como há leis que regem a sociedade. Como, então, poderiam  impor limites, e regular as ações das empresas e de seus dirigentes. Ou isto não é necessário? Para o economista clássico Adam Smith, um dos engenheiros do liberalismo econômico, tal tentativa é desnecessária, pois num sistema de mercado há uma coordenação invisível que assegura a consistência dos planos individuais, e que o resultado de tais planos corresponde ao interesse geral da sociedade.[4] Não é isso, entretanto que se observa na prática, pois nos últimos anos temos testemunhado diversos casos de empresas que se utilizam de meios ilícitos para desenvolver suas atividades e atingir seus objetivos.

Um dos maiores escândalos corporativos de todos os tempos levaram à falência duas empresas tradicionais e de renome como a Arthur Andersen e a Enron. A primeira estava encarregada de realizar consultoria nas contabilidades da segunda. Os relatórios resultantes da consultoria eram passados aos acionistas. Com a manipulação de dados realizada pela Arthur Andersen e o consentimento dado pelos executivos da Enron houve uma supervalorização das ações, que culminou com a falência da Arthur e a descredibilidade da Enron.

Em 2006, a presidente do conselho executivo, Patrícia Dunn, decidiu abandonar o cargo após terem sido descobertos atos ilegais de espionagem industrial. As atividades da HP envolviam investigadores particulares e métodos nada ortodoxos de vigilância, tudo isso em busca de uma fonte que estaria vazando informações para a imprensa[5].

Atualmente as empresas Randon S/A Implementos e Participações, Fras-le S/A e Suspensys Sistemas Automotivos Ltda. estão sendo acusadas de práticas de assédio moral. Segundo o sindicado dos metalúrgicos de Caxias do Sul, a acusação se baseia no fato de que a atitude adotada pelas empresas em outubro de 2008 de ameaçar empregados com dispensa sem justa causa como forma de forçar estes a aceitarem alteração contratual. O advogado do sindicato Assis Carvalho explica que “Chamavam os trabalhadores em grupos de quatro ou cinco e faziam acordos individuais e quem não assinasse era demitido imediatamente.” [6]

A KPMG publica regularmente um relatório sobre as fraudes nas empresas brasileiras. Em 2009, 52% das 1.000 organizações pesquisadas foram dos ramos industriais mais vários setores estiveram representados como químico, farmacêutico, petróleo, lojas de varejo, automotivo, infraestrutura, construção, agronegócios, bancos, seguradoras, informática, transporte e logística. Enfim, um vasto leque com faturamento que ia de 100 milhões a mais de 5 bilhões anuais.

O rombo no Banco Panamericano, do Grupo Silvio Santos, é o resultado de um acúmulo de irregularidades contábeis desde meados de 2006. O banco inflava seus balanços por meio do registro de carteiras de créditos que haviam sido vendidas a outras instituições como parte de seu patrimônio. A maquiagem permitiu que o valor da empresa fosse incrementado antes da abertura de seu capital, em novembro de 2007. Mas não pode blindá-lo contra a crise de crédito em 2008. No ano seguinte, o Banco teve 49% de seu capital votante comprado pela Caixa Econômica Federal. O que ainda não se sabe é como irregularidades tão grandes passaram pelo crivo de tantas instituições e por que só foram descobertas este ano pelo Banco Central.

Não é apenas dentro das empresas onde práticas de desrespeito acontecem. Atualmente a empresa Chevron está envolvida em pelo menos dois casos de derramamento de óleo em suas operações de extração de petróleo no Brasil. Os prejuízos ao meio ambiente são muitas vezes difíceis de serem calculados, e em alguns casos são subestimados pelas mesmas empresas que os causaram.

A partir dos casos descritos acima, pude concluir que as atividades das empresas devem ser reguladas a partir de valores e normas que sejam reconhecidos como vinculantes dentro de determinada empresa. Estes valores e normas colocados em prática são o que chamamos de ética empresarial, que como afirma Leisinger:

“Aplicada ela tem como meta estabelecer, através de acordo com as pessoas atingidas pelo agir empresarial, normas matérias e processuais que foram postas em vigor na empresa, e restringir os efeitos conflituosos do principio do lucro na direção de suas atividades concretas.”[7]

Este acordo tem a forma de um contrato social que molda o comportamento de todos os membros da sociedade, o que inclui não somente os funcionários das empresas, como também todos os que compõem o meio ambiente na qual ela está inserida, ou desenvolve suas atividades. A ética empresarial leva em conta não somente os resultados financeiros das empresas como também as responsabilidades econômicas, sociais, e ecológicas. Dada a importância que as questões ecológicas têm adquirido nos últimos anos faz-se necessário esclarecer que o homem é um componente crucial do meio ambiente, que é definido como o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem química, física e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas forma.[8] Logo, questões ambientais encontram-se, hoje, no centro das discussões sobre ética empresarial e políticas públicas dos governos. Alguns exemplos deste fenômeno é a aprovação do novo Código Florestal, que contraria interesses de populações nativas e a frouxa lei contra o desflorestamento, a construção da usina de Belo Monte, pela mesma razão, e a transposição do Rio São Francisco, que teve seu orçamento dobrado e ainda não foram claramente definidos os beneficiários da obra.

A necessidade de se pôr em prática um conjunto de normas e valores que definem as práticas de determinada empresa tem levado à concepção de um código de ética empresarial, que é “um conjunto de normas éticas ditadas pela autoridade empresarial com vistas ao bem comum.” Eles especificam as infrações previsíveis e a sansão correspondente a cada uma delas.[9]

Um ponto importante, ou talvez o mais importante, num código de ética é considerar o ser humano como o fim, que é basicamente a ideia de Marx quando ele afirma que o trabalhador precisa recuperar sua posição de destaque na sociedade. Reiterando esta ideia, Passos esclarece que:

“As organizações devem dedicar à ética o mesmo cuidado dispensado às questões ditas organizacionais, não só porque ela é condição de sobrevivência das mesmas, mas porque o ser humano deve ser seu valor maior, seja ele parte da estrutura interna da organização – gerentes, funcionários e demais pessoas relacionadas à equipe de trabalho -, ou sua clientela externa – parceiros clientes em geral, assim como toda a sociedade”.[10]

As observações de Marx e Passos indicam que qualquer ética empresarial tem, acima de tudo, uma característica humanista onde a vida humana é percebida como valor principal, e todas as ações empresariais devem levar a uma melhora do bem estar coletivo da sociedade.

Tendo estabelecido o ser humano como foco principal, não somente como um ideal, mas de fato, da ética empresarial, que deveres econômicos, sociais e ecológicos têm as empresas com a sociedade? Leisinger[11] sugere que as empresas devem:
empenhar-se e engajar-se a curto e a longo prazo pelo bem da empresa;

  • cuidar com responsabilidade da segurança e previdência de colaboradores(a);
  • levar em conta da maneira mais ampla possível, os interesses do meio ambiente;
  • levar em conta da maneira mais ampla possível, o desejo dos consumidores;
  • produzir e oferecer a preços razoáveis produtos e serviços que sejam úteis, seguros e saudáveis, e sob o aspecto qualitativo, os melhores possíveis;
  • criar ou pelo menos manter vagas de trabalho;
  • engajar-se em favor do contexto social, apoiar as comunidades e assumir responsabilidade social, bem como, ultimamente em medida cada vez maior;
  • levar em conta o shareholder value, isto é, os interesses de curto e longo prazo dos acionistas da empresa.

“A partir dos itens acima é possível perceber que há uma relação intrínseca entre ética empresarial e a responsabilidade social ou seja, o que as empresas devem fazer, com a responsabilidade social, que é vista como um compromisso da empresa em relação à humanidade geral.”  [12]

Entretanto, não há uma unanimidade quanto à necessidade das empresas adotarem políticas de responsabilidade social. Alguns economistas consideram que a única responsabilidade que as empresas devem ter é de maximizar o lucro para os acionistas. Contra políticas de responsabilidade social eles argumentam que os problemas sociais são de responsabilidade da sociedade como um todo. Outros, que têm uma visão socioeconômica, afirmam que as empresas não somente devem buscar o lucro, mas também a proteção e a melhoria da qualidade de vida das comunidades em que elas operam, e da sociedade em geral.[13] É evidente que empresas que se empenham em melhorias para a sociedade estão investindo para soa boa imagem pública, o que leva a um aumento de interesse dos acionistas e investidores. A BM&FBOVESPA, em conjunto com várias instituições – ABRAPP, ANBIMA, APIMEC, IBGC, IFC, Instituto ETHOS e o Ministério do Meio Ambiente – decidiram unir esforços para criar um índice de ações que seja um referencial para os investimentos socialmente responsáveis, o ISE - Índice de Sustentabilidade Empresarial.[14] O ISE visa identificar ações de empresas que são socialmente responsáveis e empresas que agem com transparência e prestam serviços de qualidade à sociedade.

Todavia, o lucro não deve ser o principal norteador das atividades empresarias. Como explica Michael Jullier, “a empresa não deve fazer isso apenas para garantir o lucro, mas também para realmente se converter em uma fonte de soluções para os problemas da sociedade, pois o objetivo de um produto é justamente atender às necessidades do cliente e isso significa resolver o seu problema.”[15]

Apesar de todas as evidências e argumentos apontarem para ações de empresas orientadas ao bem estar da sociedade, “a possibilidade de harmonizar a prática comercial-lucrativo com o agir moralmente bom parece haver ocasionado dificuldades aos homens de todas as épocas.”[16] À primeira vista, o lucro e a moral podem parecer coisas antagônicas, excludentes. Mas também há uma tendência atual em fazer com que ambos coexistam dentro do cenário empresarial. Com os avanços da tecnologia da informação e a disseminação do uso das redes sociais no meio corporativo, tem havido uma tentativa de conciliar atitudes éticas dentro e fora das empresas com um dos seus principais objetivos; Serem empreendimentos lucrativos.

Iniciativas de empresas socialmente responsáveis

Fundação José Carvalho

A Ferbasa é uma empresa do setor de mineração fundada pelo engenheiro José Gorgosino de Carvalho Filho em 1961, no município de Campo Formoso no Estado da Bahia. É a maior fabricante de Ferro ligas do Brasil e única produtora integrada de ferro cromo das Américas, exercendo as atividades de mineração, reflorestamento e metalurgia. Sua missão é continuar como uma líder de mercado, fortalecida pelos seus valores éticos e sociais. Entre outros valores da Ferbasa chamam a atenção a qualidade e segurança em tudo o que faz, e a valorização da qualidade de vida.[17]

Como ações que procuram colocar em práticas os valores contidos em seu planejamento estratégico estão o reflorestamento de eucalipto e a mitigação de impactos causados pelas suas atividades. A Ferbasa tem feito investimentos em tecnologias que diminuem a emissão de poluentes sem comprometer a sua produtividade. Além disso, a Ferbasa mantém a Fundação José Carvalho idealizado pelo fundador da mineradora.  Atualmente a Fundação possui 12 escolas que atende a 6.000 crianças e adolescentes dos estados da Bahia, Sergipe e Pernambuco.

O objetivo dos projetos educacionais realizados pela Fundação é formar cidadãos que venham tornarem-se agentes modificadores.[18]

Instituto C&A

Criado em 1991 como resposta a uma crescente exigência de seus acionistas de institucionalizar investimentos em ações de responsabilidade social, o Instituto C&A tem como objetivo promover e qualificar o processo de educação em crianças e adolescentes no Brasil. Suas ações focam-se prioritariamente em iniciativas que possibilitem aos participantes o aprendizado de valores éticos e a aquisição de capacidade crítica para o exercício da cidadania[19]. Ao contrario da Fundação José Carvalho, que possui sede para o desenvolvimento das suas atividades, o Instituto C&A opta pelo trabalho em parceria, através de alianças institucionais e articulação com o poder público. Alguns dos projetos que o instituto apoia são: Prazer em Ler, Educação Integral e Educação Infantil. Atualmente o Instituto C&A é um dos mantenedores do Projeto Axé, localizado na cidade de Salvador foi pensado como um espaço educativo para os filhos e as filhas da exclusão, sobretudo aqueles já em condição existencial de rua. Por isso o Axé, através da figura do educador de rua, estimula permanentemente os jovens a construírem um projeto de vida novo e renovador, onde estes passam a si reconhecer não apenas como sujeitos de direto, mas também, sujeitos de desejo.

Fundação O Boticário

A Fundação O Boticário foi criada em 1990 e suas missão é promover e realizar ações de conservação da natureza. Dentre seus objetivos estão à conscientização da necessidade de se preservar a natureza, promover a sustentabilidade, e sensibilizar a sociedade para a causa conservacionista. A Fundação O Boticário está atualmente engajada na proteção de remanescentes de dois dos mais importantes biomas do Brasil: a Mata Atlântica e o Cerrado. Suas reservas de proteção alcançam 11 mil hectares, e envolvem também o entorno das reservas. A conscientização sobre a pretensão da natureza também é promovida através de eventos como o Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação.[20]

Instituto Souza Cruz

O Instituto Souza Cruz foi fundado em 2000, e suas ações comprometidas com Desenvolvimento Humano Sustentável. Atualmente desenvolve o Programa Empreendedorismo do Jovem Rural. O PEJR é um programa de formação, complementar à educação formal, direcionado a jovens agricultores familiares. Com uma prática formativa inovadora nos seus valores e no projeto pedagógico, estimulando a crítica, reflexão, criatividade, ética e a cidadania, o PEJR prepara o jovem para exercer um papel estratégico de agente do desenvolvimento rural.[21]

Análise

Os exemplos acima indicam que a maioria das atividades desenvolvidas por fundações de empresas socialmente responsáveis são de incentivo à educação e à preservação ambiental. Isto mostra que essas áreas são preferenciais de investimento em projetos na opinião dos sócios e acionistas. São empresas de médio e grande porte, conforme mostra o apêndice 1 (um) com todos os institutos e fundações financiadas por empresas. Esta pequena amostra confirma dados do censo do GIFE (Grupo de Institutos Fundações e Empresas), que agrega informações sobre todas as empresas que atuam no terceiro setor. A maioria delas foi fundada nos últimos trinta anos. 71% delas atuam na área de Defesa de Direitos, 56% em desenvolvimento comunitário, 59% em projetos educacionais, 49% na formação de jovens para o trabalho e/ou para a cidadania, 42% no meio ambiente, e 62% em saúde, e a maioria tem orçamentos de R$ 2 a 8 milhões de reais, o que confirma que são empresas de médio e grande porte.[22] Isso significa que pequenas empresas não têm atuação em responsabilidade social, ou não há dados disponíveis sobre suas atividades? E se não atuam qual seriam as razões? Orçamento limitado? Falta de recursos excedentes para financiar projetos sociais? Dada a escassez de informações não nos é possível prover respostas a essas indagações, o que torna esse tema relevante para futuras pesquisas.

Outro questionamento inevitável é a possibilidade dessas fundações estarem de fato fazendo o papel do governo, uma vez que todas elas atuam prestando serviços de educação, preservação do meio ambiente, e saúde. Isto não acaba desresponsabilizando o governo e o desestimulando a criar políticas públicas nessas áreas, que são de sua responsabilidade? Não seria o caso de o Terceiro Setor estar lentamente se tornando um agente terceirizado do governo? É importante esclarecer que essas empresas adquirem incentivos fiscais por estarem ajudando a promover desenvolvimento social em seus projetos educacionais, de saúde e de desenvolvimento sustentável. Portanto, há uma barganha de atuação social por incentivos fiscais favorecendo assim as pessoas menos favorecidas, que tem neste incentivo uma chance de crescimento profissional, elevando sua autoestima, adquirindo capacidade e competência.

Conclusão

Os avanços tecnológicos impulsionados pela revolução industrial provocaram profundas transformações na estrutura da sociedade, e mais particularmente na organização do trabalho. A economia de escala impulsionou a produção com o objetivo de produzir cada vez mais por menores custos. Este novo paradigma de desenvolvimento levou a uma desumanização das relações de trabalho, a uma exploração irracional dos recursos naturais, e a procedimentos gerenciais não éticos.

Evidenciei através do referencial teórico deste artigo que nos últimos trinta anos surgiram diversas organizações e fundações fomentadas por grandes empresas com o objetivo de atuar como provedores de serviços a comunidades, a grupos minoritários, e como interventor no controle de uso dos recursos naturais e na preservação do meio ambiente. Empresas de grande porte passaram a programar em seus procedimentos atitudes éticas que procuram valorizar o ser humano e o meio ambiente em que ele está inserido, e adquiriram como meta o desenvolvimento sustentável, como mostram os exemplos descritos. Seja por auto- conscientização e auto- responsabilidade da necessidade fazer de intervenções sociais, seja para atender a expectativas de seus acionistas, seja pra agir política e ecologicamente corretas, seja pra valorizar seus papéis na bolsa, seja para adquirir incentivos fiscais, o fato é que seguindo as tendências de países ricos, as empresas brasileiras têm destinado parte de seus lucros a projetos que visam a melhorias na vida das pessoas e no meio ambiente.

Pude evidenciar na pratica que as avaliações dos projetos desenvolvidos por suas fundações têm sido positivas e isto pode ser um bom termômetro da eficiência dessas empresas não somente em suas atividades industriais como também em suas ações sociais, produzindo tecnologia e conhecimento que podem ser utilizados pelo governo em suas políticas públicas.

Talvez o maior desafio seja fazer com que esses exemplos de responsabilidade social sejam também aplicados nas empresas de médio e pequeno porte. Isto porque estas são geralmente de capital fechado, possuem menores margens de lucro, e consequentemente têm menos recursos financeiros para projetos fora de sua produção industrial. Entretanto, não posso afirmar que esses fatores sejam limitações para que essas empresas desenvolvam programas modestos de intervenção social.

Ficou evidente que talvez o que lhes faltem seja algum ponto de partida que pode começar dentro da própria empresa e se expandir para além dos limites de suas atividades industriais investindo no capital humano, retendo talentos e fortalecendo suas bases organizacionais.


[1] Produção de bens em larga escala, que resultam da racionalização intensiva da atividade produtiva, graças ao empenho sistemático de novos engenhos tecnológicos e de processos avançados de automação, organização e especialização do trabalho. (Sandrone, 190)

[2] http://pt.shvoong.com/social-sciences/1666318-marx-trabalho/#ixzz1qoI2PUBV

[3] http://www.scribd.com/doc/7394587/A-Divisao-Social-Do-Trabalho-Em-Marx-Weber-e-Durkheim

[4] (SANDRONE 365)

[5] Jornal O Estado de São Paulo. http://www.estadao.com.br/arquivo/tecnologia/2006/not20060913p70725.htm

[6] http://www.vermelho.org.br/rs/noticia.php?id_noticia=177539&id_secao=113

[7] Leisinger, 22

[8] Art. 3º, I da Lei 6938/91  http://www.lfg.com.br/material/OAB/esquema%20aula.pdf

[9] Alonso, 199

[10] Passos, 73

[11] Leisinger, 24

[12] Alonso, 182

[13] Alonso, 183

[14] http://www.bmfbovespa.com.br/indices/ResumoIndice.aspx?Indice=ISE&idioma=pt-br

[15] http://www.artigonal.com/gestao-artigos/a-empresa-socialmente-responsavel-2959366.html

[16] Leisinger 25

[17] http://www.ferbasa.com.br/

[18] http://www.ferbasa.com.br/fjc.asp

[19] http://www.institutocea.org.br/default.aspx

[20] http://www.fundacaogrupoboticario.org.br/EN-US/Pages/Flash/Home.aspx

[21]http://www.institutosouzacruz.org.br/groupms/sites/INS_8BFK5Y.nsf/vwPagesWebLive/DO8BGDY7?opendocument&SKN=1

[22] http://www.gife.org.br


Publicado por: Patricia de Andrade Santos

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.